Responsabilidade social e sustentabilidade são termos recorrentes no planejamento estratégico da maioria das organizações, já cunhados com a sigla RSE (Responsabilidade Socioambiental Empresarial), mas que ainda necessitam de líderes profundamente preparados para serem colocados em prática. Ao mesmo tempo em que o público cobra posturas socialmente responsáveis das empresas, colocando em xeque seu apelo junto aos clientes, políticas sustentáveis são cada vez mais necessárias para a própria manutenção dos negócios.
“Hoje a lógica financeira que reina no mundo corporativo só estimula os gestores a buscarem lucros e a restringirem a sustentabilidade apenas a mais um dos departamentos da organização”, afirma Rudolf Gabrich, professor nas áreas de estratégia empresarial e arquitetura organizacional da Fundação Dom Cabral (FDC). Para ele, muitas vezes posturas sustentáveis significam apenas novos gastos para as empresas, que ainda têm dificuldades em auferir o retorno financeiro dessas práticas.
Na concepção de Gabrich, o gestor tem como missão integrar valores mais responsáveis a uma companhia, além de ter uma visão integrada sobre os fatores sócioambientais envolvidos, bem como atuar profundamente no combate à desigualdade e preservação da ética.
Apesar do senso comum ainda difundido, a lógica sócioambiental não reprime os objetivos financeiros de uma empresa, desde que bem aplicada. Ao contrário, boas condutas por parte da empresa significarão um instrumento-chave para manutenção de posições de mercado nos próximos anos.
“Quando o líder maximiza estes valores, a responsabilidade social deixa de ser apenas uma imagem para se tornar uma reputação que diferencia a empresa de seus concorrentes”, explica.
O reverso da fortuna - Contudo, quando estratégias socioambientais são mal implantadas, o processo por gerar grandes riscos à empresa, afirma Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos.
“Uma empresa em crise ética que não possui condutas para reverter o quadro acaba colocando os negócios em risco, da mesma forma que mancha sua reputação quando causa algum dano ambiental ou é flagrada mantendo trabalho escravo”, exemplifica.
O recente caso das acusações de uso de trabalho escravo na espanhola Zara mostrou as dificuldades de se lidar com crises éticas. Desde que apareceram as denúncias, a empresa busca alternativas para reduzir o impacto do ocorrido em sua imagem. No início deste mês, por exemplo, a empresa aderiu ao Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil, assumindo dez compromissos em sua gestão, entre eles uma fiscalização anual por parte do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da organização não governamental Repórter Brasil e do Instituto Observatório Social.
Abrahão afirma que no curto prazo é missão das empresas investirem na formação de líderes mais preparados para enfrentarem tais responsabilidades, mas que o longo prazo traz a necessidade de compartilhamento das responsabilidades com o Estado, que mais do que simplesmente fiscalizar e punir, tem a função de educar e assegurar a promoção de políticas sustentáveis.
A chave para contornar estratégias desastradas, segundo Abrahão, é o envolvimento das esferas governamental e dos consumidores na responsabilidade empresarial. Essa tríade, diz ele, passará a atuar cada vez influenciando de modo positivo o cenário nos próximos anos, como no exemplo do pacto pela erradicação do trabalho escravo.
“Condutas positivas de empresas e poder público são capazes de impactar nas atitudes dos cidadãos, da mesma forma que os cidadãos estão cada vez mais criteriosos e capazes de exigir novas e melhores posturas de empresas e governos”, diz.
Fonte: Portal HSM
Matéria divulgada no site do Conselho Federal de Administração
Nenhum comentário:
Postar um comentário