Até meados dos anos 90, a educação voltada para executivos era um privilégio dos países ditos desenvolvidos. Os MBAs e outros cursos de pós-graduação na área só poderiam ser considerados como diferenciais na carreira quando eram feitos fora do país. Todavia, a evolução dos sistemas educacionais em países da Ásia e da América Latina, seu desenvolvimento econômico nas últimas décadas e a crise que se abate sobre os Estados Unidos e a Europa estão contribuindo para a reconfiguração do panorama clássico. Harvard ainda é Harvard. Mas a bola agora também passa pelos pés de países como o Brasil, e as nossas escolas ao poucos estão ganhando notoriedade no mundo.
No ano passado, diversas instituições nacionais se destacaram em renomadas listas internacionais. O ranking dos 100 melhores MBAs Executivos do mundo realizado pela revista britânica Financial Times elencou duas escolas brasileiras: o programa OneMBA - formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e instituições de outros países - na 26ª colocação, e a Fundação Instituto de Administração (FIA), que figurou em 57º, subindo nove posições em relação ao ano passado. Além disso, a Fundação Dom Cabral (FDC) aparece em 9º no ranking de Educação Executiva da mesma publicação, seguida pela FIA em 26º e o Insper-Ibemec, em 42º.
Já a Business School São Paulo (BSP) e, novamente, a FGV figuram respectivamente em 2º e 3º lugares no ranking QS Informe Global 200 Business Schools. E no ranking de MBAs da America Economia, Eaesp/FGV (4º), FEA/FIA (11º), Coppead/UFRJ (14º), Ebape/FGV (23º) e BSP (29º) aparecem entre as melhores da América Latina.
Veja abaixo as escolas brasileiras que se destacaram em rankings internacionais:
(ilustração: Thiago Castor/Administradores.com.br) |
Para o diretor de Desenvolvimento da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, tais resultados apontam "para um novo jogo de global players da Educação Executiva que redireciona o eixo norte tradicional para um eixo onde escolas de países emergentes podem e devem apresentar ensino de boa qualidade". Outro fator que tem influenciado o desenvolvimento da educação executiva no Brasil, segundo Resende, deve-se ao papel exercido por companhias brasileiras no mundo, sobretudo nos setores de mineração, aeronáutica, petróleo e gás e agronegócios.
Um dos elementos que contribuem para o bom posicionamento da FDC no ranking, segundo Resende, é a possibilidade do próprio aluno customizar, junto à escola, sua própria grade curricular de acordo com suas necessidades, tendência que vem se consolidando em várias escolas do segmento. "Não é uma educação feita de pacotes prontos, mas sim de soluções construídas com os alunos", enfatiza. A FDC também figura em 3º lugar no ranking aberto de educação em negócios da FT.
De acordo com o professor José Mauro, um dos diretores da Business School São Paulo (BSP), o bom posicionamento de escolas de negócios brasileiras nos rankings internacionais dá um status maior à educação executiva do país diante dos olhos de quem está lá fora. "À medida em que a BSP e outras instituições de qualidade brasileiras aparecem nesses rankings, fica claro que a importância do Brasil não é em torno só de um mercado consumidor grande, mas de outros mercados, como o da educação executiva. Eu diria que é importante sim que mais e mais escolas brasileiras de qualidade comecem a se destacar nesses rankings internacionais", afirma.
Para as instituições de ensino, aparecer em um ranking de prestígio internacional é, evidentemente, estar em uma vitrine altamente valorizada. "Quando ela aprece ranqueada de forma imparcial em um veículo confiável, as pessoas consideram aquela escola", afirma o professor José Mauro. Mas mais que isso, o professor encara como um reconhecimento ao trabalho desenvolvido. "Os rankings de maneira geral são o reflexo do que a gente faz. A gente fica muito contente em saber que o nosso trabalho está se refletindo lá fora, em ver que o nosso trabalho está dando resultado", comenta.
O caminho das instituições do Brasil em busca da excelência, entretanto, ainda é longo. No ranking da América Economia, por exemplo, somente cinco brasileiras estão listadas, num universo de mais de quarenta, índice baixo, se levarmos em conta que o país é a maior economia da região.
Para José Mauro, isso se justifica pelo fato de a educação executiva brasileira ainda ser relativamente nova. "A primeira escola de Administração do Brasil é da década de 50. É uma educação executiva que tem 60 anos de idade. Parece muito, mas Harvard, nos EUA, por exemplo, foi fundada há quase 400 anos. O Brasil é mais jovem em educação executiva do que a Europa e a América do Norte. Os países mais desenvolvidos têm uma tradição de negócios que o Brasil não tem", explica.
Num exercício de autocrítica, o diretor da BSP aponta alguns pontos chaves em que as instituições brasileiras ainda precisam melhorar. O principal deles, segundo o professor, é o que se refere à internacionalização dos seus alunos, algo que – em sua avaliação – enfrenta barreiras na legislação atual. "Se você olhar as escolas de EUA e Europa, você vai encontrar muitos estudantes de outros países estudando lá. No Brasil, isso acontece menos. Isso vai aumentar agora. Mas existe um problema na legislação brasileira. Para um aluno fazer uma pós-graduação no Brasil, ele precisa revalidar o próprio diploma no Brasil, e isso é um trâmite demorado, não é simples. Antes não tinha tanta procura pelo país. Agora que há, é preciso mudar a legislação para atender a isso", defende.
Fonte: www.administraores.com.br
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