Quem busca o privilégio do lucro, certamente deverá se prevenir dos riscos tributários
Por José Osvaldo Bozzo*
*José Osvaldo Bozzo é sócio da área de Tributos da KPMG em Ribeirão Preto.
Fonte: Matéria publicada no Jornal Contábil
Temos
observado em grandes corporações, como as do setor sucroenergético, uma
análise bastante detalhada e minuciosa no que se refere aos seus
controles gerenciais com o fito de monitorar os riscos tributários a
que estão sujeitas. O volume daquelas que se dedicam a esta tarefa tem
aumentado substancialmente em virtude das alterações trazidas pela Lei
nº 11.638/2007, que, por sua vez, veio alterar, revogar e,
principalmente, introduzir novos dispositivos à Lei das Sociedades por
Ações (Lei nº 6.404/76).
A migração para o novo
padrão contábil (IFRS, ou normas internacionais de contabilidade) tem
levado o consultor a dedicar boa parte de seu tempo e de suas equipes
de trabalho ao controle de riscos tributários. Há um estudo, formado
por especialistas e pesquisadores da área, que indica que o volume de
empresas que se dedicam ao monitoramento dos riscos tributários
ultrapassa 25% do tempo dedicado aos controles internos.
Deduzimos
que o envolvimento das empresas nesta área é também reflexo da crise
econômica mundial e da adaptação às normas internacionais, o que as tem
levado a adotar uma postura mais severa no gerenciamento dos riscos
tributários. Há, assim, no Brasil, um controle mais rígido envolvendo
questões de natureza tributária.
No setor
sucroenergético não é diferente. Os gastos com tributos podem ser tão
representativos quanto os custos de produção. As elevadas
contribuições, além de representarem vultosos recursos às empresas,
impõem uma parcela extremamente visível da voracidade do Fisco para
arrecadar. Assim, isso tudo eleva o componente dos riscos em razão de
possíveis autuações por conta de divergências fiscais.
Aliado
a tudo isso, e após vários incrementos realizados pela Receita Federal
do Brasil, tais como adoção de modernos métodos e ferramentas
tecnológicas empregadas na administração tributária, é importante que
as empresas busquem ampliar seu leque de conhecimento na área
tributária, o que já parece ser a tendência no atual processo de
profissionalização do setor.
As mudanças na
legislação, a complexidade do sistema tributário nacional e as novas
abordagens do Fisco tornam imperioso o recrutamento de profissionais
especializados na área de tributos, enquanto percebe-se uma carência
brutal de especialistas capacitados no mercado.
A
devida análise dos riscos fiscais aos quais as empresas estão
expostas, o que deve ser feito sempre com a máxima transparência, poderá
ter impactos bastante positivos nas demonstrações financeiras,
contribuindo significativamente no fluxo de caixa e no exato valor
tributável a que as empresas estejam sujeitas, além de evitar autuações
que podem custar altas somas às companhias. Assim, com objetividade, as
empresas devem investir em profissionais especializados e atuantes na
área. Tais investimentos se mostrarão muito produtivos e econômicos no
futuro, com certeza.
Para se ter uma ideia, os
encargos tributários a que as empresas estão sujeitas, seja nas esferas
municipais, estaduais ou federal, e a quantidade de tributos
(impostos, taxas e contribuições) que incidem sobre a economia somam
aproximadamente 60 tributos federais, estaduais e municipais. Assim, o
número expressivo de normas e as mudanças constantes acabam por
provocar a enorme complexidade percebida na gestão tributária, motivo
pelo qual é interessante se investir em assessoria para cuidar
exclusivamente da administração tributária.
A
carga tributária, no Brasil, ultrapassa os 35% do PIB, segundo a
própria Receita Federal. Já em diversos outros países, observa-se um
custo tributário menor, com mais eficiência e menor complexidade em
razão do número menor de tributos, o que torna o comando tributário
muito mais eficaz, seguro, transparente, e, principalmente, menos
oneroso.
Temos invariavelmente ressaltado que
para tornar as empresas brasileiras mais competitivas, é preciso que o
governo brasileiro mude as regras do jogo, de maneira eficaz,
possibilitando desonerar não somente as empresas, mas tornar o país
mais competitivo no cenário internacional.
A
ampliação da capacidade produtiva é premente e, para tanto, é preciso
haver uma manifestação clara e definitiva de políticas públicas que
retomem a atratividade do setor sucroenergético. Uma medida salutar do
governo federal para contrabalançar esse cenário seria a desoneração
tributária, sobretudo de PIS/Cofins, de toda a cadeia produtiva. Além
disso, há a necessidade de que sejam expandidas as linhas de
financiamento para investimentos em renovação e plantio de novos
canaviais, pois são indispensáveis para que o setor consiga atender à
enorme demanda e potencial de consumo do etanol brasileiro.
O
compromisso assumido pelo governo pela diversificação da matriz
energética nacional deve estimular o desenvolvimento de uma cadeia
competitiva e sustentável, pois tudo isso gera empregos, torna o Brasil
exemplo mundial no uso de fontes de energia limpas e possibilita um
melhor planejamento tributário que se reflita em um adequado fluxo de
caixa ou em investimentos. Obter-se a maior economia fiscal possível,
minimizando custos, é um objetivo mais que desejado.
Enquanto
não vislumbramos uma solução no horizonte, que poderia vir com uma
ampla reforma tributária no País, temos de conviver e administrar os
tributos que estão aí. Quem busca o privilégio do lucro, certamente
deverá se prevenir dos riscos tributários. As empresas que não se
capitalizaram, que não adotarem sistemas melhores de gestão pensando no
futuro deverão enfrentar enormes problemas. Por isso, sempre buscando o
apoio necessário, é preciso que as empresas continuem estudando,
pesquisando, debatendo, planejando e adotando as melhores práticas para
garantir resultados que sejam os mais positivos e competitivos para o
setor.
Fonte: Matéria publicada no Jornal Contábil
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