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Jornal do Comércio Caderno Contabilidade

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Vender a empresa para se aposentar pode ser opção do empreendedor

Chega um momento em que toda pessoa deseja passar o bastão para buscar o descanso merecido. Os empresários também precisam desfrutar dessa fase da vida. Mas como fazer isso sem perder o investimento de uma vida inteira? 
 
Gilvânia Banker
FREDY VIEIRA/JC
Para Jung, sucessão é a melhor saída para quem quer deixar o cargo.
Para Jung, sucessão é a melhor saída para quem quer deixar o cargo.

Após trabalhar durante anos, alguns empresários decidem que chegou a hora de encerrar a carreira. Saber exatamente o que avaliar pode ser decisivo na hora de fechar o melhor negócio. “Comercializar a sociedade que, na maioria das vezes, ajudou a fundar, é uma forma segura de levantar fundos para uma aposentadoria mais tranquila”,  destaca Batista Gigliotti, master franqueado da Sunbelt Business Brokers no Brasil, que atua na intermediação de vendas de empresas. Segundo ele, a medida também permite ver a continuidade, mesmo que de longe, do modelo de empreendimento a que teve importante ou total participação sua. 

A avaliação detalhada não é só para quem compra, pois quem vende também precisa saber quem irá assumir seu investimento, principalmente se ele for parcelar o valor. Gigliotti lembra que existem diversas metodologias disponíveis no mercado, e que cada uma levará em consideração um determinado fator. Contar com profissionais que conheçam a fundo o mercado em que atuam é fundamental para o sucesso da operação.

Segundo o especialista, é preciso estar preparado para as perguntas que poderão surgir do comprador. “Vender uma empresa é diferente do que comercializar um apartamento, mesmo que você tenha uma cláusula de retomada do seu negócio, tem que ver em que estado ele irá retornar”, alerta. Gigliotti explica que os riscos são altos, mas é a forma de capitalizar um negócio que a pessoa investiu a vida inteira. 

Para muitos, o óbvio seria passar para um filho, familiar ou preparar um sucessor. Mas, na maioria dos casos, conforme o especialista, isso não acontece nas pequenas e médias empresas. Porém, como qualquer outro profissional, o empresário também precisa pensar em sua aposentadoria. Gigliotti comenta que conhece inúmeros casos de pessoas que queriam vender o seu negócio para simplesmente curtir os netos, ou para viajar com a família. No entanto, o empreendimento precisa continuar. Segundo ele, do total de empresas no País, cerca de 10% a 20% são vendidas por essas razões. Um montante considerado grande em sua visão.

Orientação ajuda na hora de fazer avaliação abrangente

 

Tomar a decisão de vender ou de comprar um empreendimento merece muito cuidado. Por isso, o Sebrae/RS orienta que é necessário uma adaptação quanto à forma de atuação da companhia.

De acordo com a entidade, uma empresa só atinge a maturidade depois de passados os três primeiros anos de existência. Seria esse o primeiro aspecto a levantar. Mas, de acordo com o Sebrae/RS, é fundamental, antes de decidir, fazer uma autoanálise para descobrir se há aptidão e conhecimento para o desafio pretendido. Também é preciso verificar se possui perfil para ser patrão. Qualquer resposta negativa para uma dessas questões expõe uma debilidade que poderá implicar o insucesso do empreendimento.

Questionamentos como esses são tão comuns que o Sebrae/RS costuma estimular os empreendedores para que busquem orientação. Além disso, a entidade sugere que o comprador solicite a apresentação de documentos como contratos de locação de imóvel e de constituição da sociedade e os cartões do CNPJ,  de inscrição estadual e do cadastro de contribuinte mobiliário, além das cinco últimas declarações de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, Dipam, Rais dos últimos cinco anos, livros contábeis obrigatórios e devidamente escriturados e registrados. São essas as exigências mínimas para se comprovar a regularidade de uma empresa, além de buscar uma renegociação do imóvel, se for alugado. 

Escritórios preocupam-se em planejar a sucessão

 

Os escritórios de contabilidade vivem uma realidade diferente. De acordo com pesquisa realizada pela Trevisan Escola de Negócios e Unisescon com um universo de 204 associados ao Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento de São Paulo (Sescon/SP), 80% das empresas de contabilidade paulistas preocupam-se em planejar a sucessão e em preparar seus sucessores para este momento. “A pesquisa demonstra a preocupação do setor com a profissionalização, que passa necessariamente por gestores bem preparados”, avalia o diretor da Trevisan, Fernando Trevisan. 

A maioria dos sucessores se interessa ou está no caminho de aprimorar os conhecimentos para assumir o comando. Segundo o levantamento, 42% já são bacharéis ou estão cursando graduação em Ciências Contábeis, enquanto 39% pretendem realizar o curso. 

A pesquisa aponta que 64% dos possíveis sucessores estão acima dos 21 anos. A maior parte dos entrevistados ainda tem a primeira geração no comando.

Negociar com clareza é fundamental

 

Os passos de venda geralmente incluem uma due diligence, um processo de análise realizada por uma auditoria, que faz o diagnóstico do passivo tributário, ambiental e trabalhista da sociedade a ser adquirida, e também dos ativos. O especialista em Direito empresarial, o advogado Daniel Radici Jung, do escritório Gianelli Martins Advogados, explica que existe um cuidado muito grande e um tempo adequado para realizar a inspeção. “Muitas vezes, as dívidas não são identificadas, pois uma certidão de débitos pode estar negativa em uma semana e positiva em outra.”

Conforme Jung, que já intermediou diversas negociações, mesmo que a companhia esteja regular junto ao fisco, é necessário todo um processo de auditoria na contabilidade nas relações contratuais e nas relações trabalhistas, que acaba refletindo no valor da negociação. Ele explica que, em relação aos tramites legais, independentemente de ser uma Ltda. ou uma S.A., as alterações dos contratos e do estatuto são feitos na Junta Comercial.

Jung ainda acredita que é preferível que o dono que se aposenta transfira o negócio para os filhos ou prepare ao longo do tempo um sucessor. Mas, se isso não for possível, ele necessita de uma equipe competente para intermediar a negociação. Normalmente, as Ltda. ou S.A. são passadas para o sócio que tem a preferência. No entanto, ocorre que a sociedade, muitas vezes, possui o chamado “sócio-laranja”, que tem quota minoritária e não tem interesse e muito menos formação para gerir a companhia.  

Nesses casos, as opções também são as fusões, cisões e incorporações. A fusão é quando duas ou mais empresas se juntam para formar uma nova sociedade, e a incorporação é quando uma absorve a outra e todo o seu ativo é transferido, permanecendo seu CNPJ e sua razão social. Já a cisão, uma operação mais rara, é quando a corporação transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, extinguindo-a. 

Seja qual for o modelo adotado, Jung explica que os documentos contábeis são fundamentais e expressam muito bem a realidade da entidade, mas é preciso uma análise mais rigorosa, pois podem existir dívidas ocultas. “O papel da contabilidade é imprescindível, pois são os primeiros documentos a serem analisados. A entidade vai ser vendida pelo valor de mercado e às vezes a contabilidade está defasada e não há preocupação de preparar o negócio para isso”, comenta. 

Cresce o número de fusões e aquisições no primeiro semestre de 2012

 

O movimento de fusões e aquisições foi marcante para o Rio Grande do Sul nos primeiros seis meses do ano. Neste período, 17 companhias foram vendidas, um aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano passado, quando ocorreram 13 transações. “A aquisição de empresas gaúchas continua sendo uma premissa importante para quem entra no Estado em função de suas perspectivas econômicas e aspectos regionais deste mercado” afirma Luis Motta, sócio-líder da área de Fusões e Aquisições da KPMG no Brasil e responsável pela pesquisa.

Os gaúchos também resolveram comprar: no primeiro semestre de 2012, foram 13 operações de empreendimentos estabelecidos no Rio Grande do Sul, número 44,5% maior do que no mesmo período de 2011, quando foram registradas nove aquisições. “A pesquisa deste primeiro semestre mostrou que, se de um lado as empresas estão crescendo e se tornando atrativas para investidores, de outro, muitas companhias também se fortalecem e expandem suas atuações”, conclui Motta. 

Segundo a pesquisa, no Brasil, no primeiro semestre de 2012, 167 entidades nacionais foram compradas por multinacionais. Comparado ao mesmo período de 2011, o aumento foi de 77% de desnacionalização. O estudo, mesmo que restrito às grandes organizações, revela que as fusões e aquisições se tornam uma tendência no mercado, independentemente do nicho e porte da empresa.


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