Fernando Soares
ANTONIO PAZ/JC
Neusa lembra que mudança na
abordagem dos professores melhorou
desempenho dos alunos do IPA.
|
Ele ainda é
um jovem, inexperiente. Enfrenta algumas dificuldades naturais da tenra
idade, mas procura aprender com os erros para evoluir. Retomado com
caráter obrigatório para o exercício da profissão em 2011, o exame de
suficiência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) segue rumo à
maturidade. Após três edições com resultados oscilantes, o objetivo é
consolidar um patamar de aprovação maior nos próximos anos. E o passo
seguinte neste processo será dado em 23 de setembro, quando a avaliação
ocorre pela quarta vez consecutiva.
“Acreditamos
que, a partir do sexto exame, vamos ter resultados na faixa de 65% a 70%
de aprovação. A prova é um importante instrumento de proteção para a
sociedade, que diz se o nosso profissional está apto a exercer a
profissão”, acredita o presidente do CFC, Juarez Domingues. Enquanto
esse índice elevado de efetividade não chega, a situação de momento
preocupa o dirigente. Nem metade dos bacharéis inscritos nas provas já
realizadas conseguiu aprovação.
O cenário, na
avaliação do presidente do CFC, demonstra a necessidade de melhoria no
ensino da contabilidade. Apenas desta forma será possível alcançar
resultados positivos na prova de forma permanente, na avaliação de
Domingues. Neste sentido, ele enfatiza que há carência de investimentos
nas estruturas oferecidas pelas universidades, como bibliotecas e
laboratórios, e na capacitação dos docentes.
A
escassa quantidade de mestres e doutores nas faculdades brasileiras é um
dos principais pontos a ser tratado. “Mais de 90% das universidades
brasileiras não têm mestres e doutores. A maioria das instituições não
quer investir na formação dos seus professores. Mudar isso é
determinante para haver melhoria no processo de ensino”, defende
Domingues. Para estimular o aperfeiçoamento desses profissionais, o
Conselho Federal fechou parcerias com as universidades portuguesas de
Aveiro e Minho. Os acordos devem entrar em vigor em 2013. A intenção é,
em dois anos, disponibilizar 110 vagas para professores que desejam se
tornar mestres ou doutores.
Entretanto, a
responsabilidade pelo desempenho abaixo da média constatado até então
não é somente dos cursos. “O ensino não é uma via de uma mão só. É
necessário que o aluno queira estudar, procure se aprimorar e busque
novos conhecimentos. Acredito que estava faltando um pouco dessa atitude
nos primeiros exames, mas agora isso está começando a mudar”, analisa
Clóvis Kronbauer, professor de Ciências Contábeis na Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Quem aposta na
preparação para a prova acaba colhendo os frutos. É o caso da contadora
Simone Leite, formada na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (Pucrs) no início de 2011. Ela conseguiu a aprovação logo no
primeiro teste conduzido pelo CFC. “Em dois sábados, participei de um
grupo de estudos que os professores da faculdade organizaram para tirar
dúvidas. Isso me ajudou bastante”, diz. Além disso, Simone procurou os
exames anteriores, quando o cunho ainda não era obrigatório, para
revisar os conteúdos abordados.
Universidades gaúchas procuram aperfeiçoar o ensino contábil
As
médias oscilantes em todo território nacional, nas provas realizadas
até o momento, acabaram tendo reflexos na rotina da sala de aula. Até
mesmo universidades com bons índices de aprovação têm procurado
aperfeiçoar o ensino da contabilidade a fim de deixar seus estudantes
mais bem preparados para o teste. No Rio Grande do Sul a situação não é
diferente. Algumas das principais faculdades do Estado fizeram mudanças
de distintos cunhos, da metodologia à bibliografia.
A
coordenadora do curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário
Metodista do IPA, Neusa Monser, lembra que a retomada da prova coincidiu
com um momento de transição para a contabilidade brasileira, envolvendo
diversas alterações nas leis e processos. “Apenas nos últimos dois anos
começaram a sair livros com uma orientação mais consolidada. Esse gap
entre as modificações na profissão e a produção de livros pode ter
impactado nos resultados do exame”, acredita.
Após
um desempenho abaixo do esperado na primeira avaliação, o IPA conseguiu
73% de aprovação na prova seguinte. Resultado que passou por mudanças
na abordagem dos professores em relação a alguns temas e nos livros
utilizados como material de apoio.
As grades
curriculares dos cursos superiores de todo o País já vinham sendo
adaptadas à nova realidade contábil vigente desde a adoção das normas
internacionais, em 2009. Mesmo assim, o exame de suficiência se tornou
um elemento para balizar decisões e reforçar alguns conteúdos. “Os
exames realizados até agora pegaram muitos alunos que entraram na
faculdade com uma normativa contábil e concluíram o curso com outra. Por
isso, reforçamos algumas disciplinas e organizamos palestras e
simpósios”, constata Clóvis Kronbauer, professor da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos (Unisinos). Com isso, a instituição conseguiu uma taxa
de 70% de aprovação no segundo teste realizado.
Com
uma graduação voltada à controladoria e finanças, a Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) também utilizou a
exigência para fazer reflexões. “Estamos mapeando as provas e, de certa
forma, inserindo nas disciplinas perguntas com a mesma estrutura das
cobradas no exame”, salienta o coordenador da faculdade de Ciências
Contábeis, Saulo Armos. Além disso, Armos destaca que a avaliação foi
levada em consideração na hora de escrever o novo projeto pedagógico do
curso, que será implementado em 2013.
Mercado passa a contar com cursos preparatórios
O
exame de suficiência realizado pelo Conselho Federal de Contabilidade
(CFC) abriu espaço para um novo mercado: o de cursos preparatórios. O
desenvolvimento desse nicho, porém, ainda é lento. Pelo fato de a
retomada da prova ser recente, poucas instituições ofertam capacitações
revisando os conteúdos exigidos na avaliação. A tendência, no entanto, é
que esse tipo de serviço na área contábil ganhe cada vez mais força.
No
momento, achar um cursinho em Porto Alegre é tarefa de gincana. O
Instituto Insero é um raro caso de espaço que possui esse item no
portfólio. A partir da segunda edição do exame, no segundo semestre de
2011, a empresa passou a disponibilizar uma oficina preparatória com
duração de dois meses e meio. “Eu e o meu sócio somos da área, vimos que
não tinha nada parecido sendo ofertado e então idealizamos o curso. Por
sermos contadores e docentes, sabemos o que esses alunos precisam”,
acredita Wilson Danta, professor e presidente da instituição.
A
cada nova prova realizada, uma turma é aberta pela Insero. A
quantidade de alunos, porém, tem sido abaixo do esperado. Das 30 vagas
oferecidas a cada edição, geralmente 15 delas são preenchidas. “Os
estudantes ainda não acordaram para a prova, estão achando que é fácil”,
opina Danta. O curso possui 17 disciplinas, abordando temas como
auditoria, controladoria, estatística, perícia e normas de
contabilidade. Ao todo, são 96 horas/aula para bacharéis e 56 horas/aula
para técnicos. Segundo Danta, no exame passado, o grau de aprovação dos
alunos superou 70%. Em breve, o Sindicato dos Contabilistas de Porto
Alegre (SCPA) também pretende ingressar nessa área, a partir de 2013.
Fonte: Jornal do Comércio RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário