Descontrole, má gestão,
ausência de planejamento, falta de visão e de conhecimento do próprio
negócio. Esses são alguns fatores que levam uma empresa a ter prejuízos e
fechar suas portas
Gilvânia Banker
JONATHAN HECKLER/JC
Os desequilíbrios financeiros geram
problemas incalculáveis para as companhias que não possuem planejamento
e nem um fluxo de caixa controlado. De acordo com pesquisa da Serasa
Experian, 975 instituições brasileiras entraram com pedido de falência
em 2012. As micro e pequenas empresas apresentaram um maior número de
solicitações nos primeiros seis meses de 2012. Somente para essa
categoria, foram 529 solicitações. De janeiro a junho de 2012, houve uma
alta de 11,2% com relação ao mesmo período de 2011.
Ainda
conforme os dados da Serasa, desses 975 pedidos, 286 foram feitos pelas
companhias de médio porte e 160 pelas grandes. De acordo com a
especialista contábil Dora Ramos, diretora da Fharos Assessoria
Empresarial, o colapso das médias e grandes empresas pode decorrer do
acúmulo de financiamentos e capital de giro e até mesmo como uma solução
estratégica. Nestes casos, para que o gestor não deixe o empreendimento
fracassar, ela orienta que se reconheça a situação de alerta antes que o
problema tome proporções maiores.
Mas existem meios de evitar
o fracasso de um negócio. A especialista diz que é preciso ter um
controle de gastos e um bom planejamento. “Nos primeiros anos de
abertura de um empreendimento, deve-se ter uma administração muito
precisa, pois qualquer deslize pode levar ao fechamento das portas”,
explica.
A incapacidade financeira é gerada por uma má
administração que, conforme ela, muitas vezes, pode acontecer por
fatores externos e acaba acarretando numa falha do gestor. Segundo Dora,
os riscos precisam ser avaliados e previstos. “O administrador precisa
pensar de forma muito ampla a falência é consequência de um pensamento
um tanto quanto restrito onde alguns fatores deixaram de ser
contemplados”, analisa.
Na maioria das vezes, o pedido
judicial é feito pelos próprios fornecedores, já cansados de negociar e
de cobrar. No caso de a corporação ir à bancarrota, ela precisa passar
por um processo judicial a ponto de provar que está completamente sem
condições de quitar suas dívidas. “Imaginem se todos que tivessem
problemas financeiros pedissem falência, seria uma saída ótima”,
ironiza.
Depois que se chega a vias jurídicas, muitas vezes, é
possível a recuperação judicial, renegociando os débitos. “Tive
clientes com muitas dificuldades financeiras, e seus maiores credores
eram bancos, e muitos deles conseguiram reverter o processo”,
exemplifica.
Planejamento auxilia a manter a saúde financeira
Abrir
um negócio pode ser o sonho de uma vida inteira. Para impedir que esse
sonho não se transforme em pesadelo, as dicas são simples, basta que o
empresário tenha o controle de toda a operação. De acordo com a
especialista contábil Dora Ramos, diretora da Fharos Assessoria
Empresarial, as micro e pequenas empresas, muitas vezes, mostram-se
saudáveis, mas seus proprietários começam a se empolgar e gastam mais do
que devem, tornando-as inviáveis financeiramente. “As retiradas não
podem ir além da capacidade da companhia”, alerta. É nesse momento que o
planejamento se mostra tão fundamental. Além disso, é preciso estar
prevenido com seguros contra acidentes, roubos, furtos, incêndio etc.
“Eu já tive clientes que sofreram assaltos e acidentes e que não tinham
seguro que pudesse cobrir o prejuízo de um estoque, por exemplo”,
comenta.
O papel do contador, conforme Dora, é o de consultor.
“Ele tem todas as informações da instituição e deve comunicar o mais
rapidamente possível o que está acontecendo para o seu cliente”, alerta.
Segundo ela, o profissional contábil acaba sendo um dos braços do
empresário para a tomada de decisões.
Porém, essas dicas se
encaixam para os pequenos, pois, no caso das grandes, a falência, muitas
vezes, é uma saída estratégica. “Elas possuem todo esse controle, têm
planejamento, uma equipe de consultoria e poderiam mudar o curso antes
de chegar a isso”, comenta Dora.
Quem não se lembra da
companhia aérea Varig e das outras duas do grupo, a Rio Sul Linhas
Aéreas e a Nordeste Linhas Aéreas, quando a sua falência foi decretada
oficialmente em 20 de agosto de 2010? O pedido de fechamento foi feito
pelo próprio administrador do grupo, que alegou que a corporação não
tinha capacidade de quitar suas dívidas e reclamava de valores devidos
pela União, um dos motivos de seu fechamento.
Recentemente, outra
empresa aérea teve o mesmo destino. No começo de julho, a Pluna
anunciou sua falência, e operava com cerca de 250 voos semanais, com
rotas entre Argentina, Brasil, Chile e Paraguai.
O grupo
Eastman Kodak, pioneiro em câmeras fotográficas, informou pedido de
concordata em janeiro desse ano. Com 130 anos no mercado, obteve uma
linha de crédito de US$ 950 milhões do Citigroup para continuar
operando.
Conforme Dora, no caso das grandes empresas, os
fatores são inúmeros, como até mesmo as flutuações das aplicações na
bolsa de valores. Mas, para ela, independentemente do tamanho da
instituição, o planejamento e a gestão de riscos são os ingredientes
essenciais para evitar o endividamento.
Dívidas tributárias pesam nos resultados
Uma
dívida tributária não gera falência, mas pode dar muita dor de cabeça.
No aperto financeiro, o gestor logo deixa de pagar os impostos, que vão
virando uma bola de neve. Portanto, a companhia pode se complicar
bastante com o fisco. Conforme o advogado e professor Fábio Canazaro,
especialista em Direito Tributário, o empresário pode se enredar com a
chamada penhora online, que é a cobrança judicial fiscal, e, se a
instituição não conseguir se defender, ela poderá quebrar.
A
saída, de acordo com o especialista, é organização e planejamento
tributário. “Grande problema dos passivos é o amadorismo e a falta de
conhecimento”, diz Canazaro. Conforme ele, as instituições investem,
fazem grandes contratações, compram maquinários ou exageram na aquisição
de estoques, e se esquecem de planejar os impostos. Para não morrer na
praia, Canazaro aconselha que os empresários busquem se cercar de uma
boa equipe de advogados tributaristas, contadores e administradores para
que o negócio possa ir adiante, pois, quando chega ao ponto de ir
buscar acordo judicial, a entidade precisa apresentar um plano que
demonstre que ela tem condições de pagar as suas dívidas.
“As
pessoas acham que os débitos tributários caducam”, brinca a especialista
contábil Dora Ramos, da Fharos Assessoria Empresarial, e diz que,
muitos pequenos empresários simplesmente abandonam seus negócios. Porém,
conforme ela, o CPF do responsável também vai ficar comprometido, caso o
devedor tenha que ajustar as contas com o fisco.
Rio Grande do Sul tem boa recuperação de empresas
A
Lei n.º 11.101, de 9 fevereiro de 2005, buscou priorizar a recuperação
das empresas. Conforme a legislação, a dívida não pode ser inferior a
40 salários-mínimos, hoje R$ 24.880,00, mesmo que o processo tenha
começado antes da lei de 2005, quando ainda não havia um valor mínimo
previsto na legislação.
No Rio Grande do Sul, o número de
pedidos de falências não chega a ser significativo, na opinião do juiz
da Vara de Falências e Concordatas do Estado, Lucas Maltez Kachny.
Tramitam hoje um total 3 mil processos ativos. Desses, 334 estão em
procedimento falimentar, e 33 estão em negociação, ou seja, em
recuperação judicial.
Apenas 68 instituições entraram com pedidos
de autofalência. O juiz acredita que a lei acabou favorecendo o diálogo
e a negociação.
O requisito para o fechamento total das
atividades da companhia é a comprovação da impossibilidade total de
recursos para pagar as contas devidas. “Mas são muito poucos casos”,
lembra o juiz.
Raio-X ajuda a identificar rumos a serem corrigidos
Onde
está o dinheiro? Para detectar a falta de recursos e as causas que a
levaram a tornar uma empresa incapaz, é necessário realizar uma
verdadeira radiografia. Essa metodologia, chamada de Análise de
Viabilidade de Negócios, conforme o diretor da Nota 10 Consultoria,
Laerte Oliveira, possibilita a análise dos acontecimentos das
movimentações para que se consiga fazer os ajustes necessários.
Se
o dinheiro sumiu do caixa é sinal de má gestão. A busca pelo lucro é o
que paga os investimentos, mas, conforme Oliveira, as pessoas confundem
as sobras do caixa no final do dia e acham que podem usufruir dele
livremente. “O lucro é a sobra do dinheiro depois que tudo estiver
pago”, lembra, e diz que, mesmo que sobre capital, tem que haver
critério para utilizá-lo. O consultor alerta que o dono tem que
acostumar a usar o seu pró-labore, que é o seu valor fixo mensal.
O
serviço de investigação tem o objetivo de analisar se determinado
negócio dará o lucro tão esperado e se conseguirá manter-se ativo, sem
fazer parte das estatísticas do fechamento de empresas nos primeiros
anos de vida. Para Oliveira, pagar e receber é apenas uma reação. “A
área financeira é um termômetro e não o remédio”, reforça. Para ele, a
área comercial deve ser muito bem estruturada, bem como o setor de
compras, por exemplo, ambos fundamentais no andamento dos negócios.
Após
as pesquisas, é elaborado, com base em indicadores gerenciais e
fundamentado em critérios contábeis, um dossiê com todas as orientações,
tabelas e gráficos. Com essa avaliação, comenta, também é possível
identificar gastos desnecessários e melhores maneiras de economizar
dinheiro.
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