Proposta de padronização do imposto interestadual dos importados foi aprovada ontem pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE)
Gilvânia Banker
O proposta aprovada pelas Comissões do Senado
Federal que fixa em 4% a cobrança do imposto para importação de produtos
via portuária gerou inúmeras discussões entre senadores, especialistas,
governos estaduais e empresários.
A padronização do ICMS
interestadual dos importados, de autoria do senador Romero Jucá
(PMDB-RR), resolução 72 de 2010, já recebeu parecer favorável da
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ontem da Comissão de Assuntos
Econômicos (CAE). O texto ainda deve ser votado no plenário do Senado.
O
objetivo, de acordo com o parlamentar, é acabar com a chamada guerra
fiscal dos portos. Hoje as alíquotas do ICMS vêm sendo calibradas por
alguns estados como forma de atrair investimentos, garantindo novos
negócios e empregos. O projeto também estabelece a competência do
Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) para definir os bens e
as mercadorias enquadrados nessa nova norma.
Alguns setores
acreditam que a mudança pode desestabilizar a indústria nacional. É o
caso das empresas de máquinas e implementos agrícolas que já vêm
sofrendo o afluxo de produtos estrangeiros que entram no Brasil com
preços mais baixos por causa da atração de incentivos concedidos por
alguns estados.
Na opinião do presidente do Sindicato da
Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul
(Simers), Cláudio Affonso Amoretti Bier, a resolução vai favorecer o
produto importado. “O governo precisa fazer uma campanha para manter o
emprego aqui”, observa. Ele considera injusto que a indústria nacional
pague, no caso do Rio Grande do Sul, 17% de ICMS, e os importados 4%.
Segundo
ele, no ano passado, entrou cerca de R$ 1 bilhão em equipamentos no
Brasil pela compra, em outros países, de máquinas utilizadas para
aplicação de herbicida, o pulverizador. “Valor significativo que
deixamos de ganhar no nosso País”, lamenta. Bier acredita que o Brasil
precisa aplicar uma política tributária mais justa. “Sou a favor da
unificação do ICMS, mas o imposto das mercadorias importadas deveria ser
o mesmo dos nacionais”, opina.
A indústria vitivinícola
também tem concorrentes fortes de países como o Chile, Argentina e
Uruguai, mas para o contador e advogado tributarista do Instituto
Brasileiro do Vinho (Ibravin), Marcos Fracalossi, a medida significa uma
proteção à indústria nacional. Juntamente com uma equipe do Instituto,
Fracalossi realizou um estudo sobre a tributação existente na cadeia de
oito produtos fabricados no Brasil, tais como o próprio vinho, cerveja,
cachaça, refrigerante, sucos, entre outros. O grupo analisou os
regulamentos do ICMS dos 27 estados brasileiros.
“Encontramos as
mais diversas discrepâncias, diferentes regramentos, cada estado com uma
realidade diferente”, conta. A pesquisa, segundo ele, serviu para
aumentar a convicção de que é fundamental a mudança na legislação do
ICMS com a máxima urgência. “Isso sim é um grande entrave burocrático
para o crescimento nacional”, avalia.
Segundo ele, existem
cerca de 20 estados com benefícios fiscais. Santa Catarina chega a uma
carga tributária efetiva de 4% para os produtos importados. O Espírito
Santo, por exemplo, aplica 1% nas operações interestaduais praticadas
por atacadistas. Conforme o contador, o produto nacional, como o vinho,
sofre ainda mais, pois a maioria dos estados utiliza alíquota interna de
25%, o extremo é 30% no Pará. O Rio Grande do Sul utiliza a taxa de
17%.
Para ele, a aprovação da resolução 72 é um importante
passo para unificar e inibir a guerra fiscal. Fracalossi diz que acabar
com o embate entre os portos tem efeito imediato no País. “Não é a
melhor solução, mas um passo importante a ser dado”.
Secretário da Fazenda gaúcho aposta em benefícios para o Estado com as alterações
Com
o objetivo de acabar com a chamada guerra dos portos, o limite de 4% do
ICMS equilibrará a disputa existente entre alguns estados como Santa
Catarina, Espírito Santo e Rondônia. De acordo com o secretário da
Fazenda do Rio Grande do Sul, Odir Tonollier, era “urgente” a
normatização dessa batalha. “Acredito que a medida é importante para o
País, pois acaba com os subsídios às importações, o que é inadmissível
por parte dos estados que praticam esta política que suprime os empregos
nacionais em detrimento da criação de postos de trabalho na China”,
defende o secretário.
Segundo ele, haverá um forte impacto na
indústria em um primeiro momento e, consequentemente, os estados
passarão a arrecadar mais. Além disso, o Estado possui Santa Catarina na
rota logística, promovendo créditos presumidos aos importados como um
falso artifício para manter a movimentação dos portos.
A
medida, para Tonollier, é um primeiro passo para a uniformização dos
tributos, fator determinante para encerrar as disputas fiscais entre os
estados da Federação. “Os secretários da Fazenda já trabalham nesta
linha e projetam que as alíquotas sejam reduzidas para que haja
facilidade na migração dos tributos de um estado produtor para outro
consumidor”, diz.
Rigotto defende reforma tributária profunda no País
A
mudança no percentual do ICMS nas operações interestaduais inquietou
também os tributaristas e especialistas no assunto. O ex-governador
Germano Rigotto, que se debruça sobre a questão da reforma tributária há
anos, disse que a unificação é positiva, mas insuficiente para resolver
toda a problemática que envolve esse complexo tributo. “É claro que com
27 legislações e 40 alíquotas não há mais como perdurar. Vamos precisar
fazer uma reforma profunda”, acredita. Rigotto lamenta que, com esse
emaranhado tributário, o consumidor e as pessoas de baixa renda acabam
sendo os mais penalizados, pois nem fazem ideia de quanto pagam em cada
produto.
Segundo ele, o Planalto quer jogar com rapidez, fazendo com que a redução dos juros das dívidas compense as eventuais perdas decorrentes da guerra dos portos. “Fico gratificado ao ver que essas pautas entraram definitivamente num viés de encaminhamento prioritário.”
Segundo ele, o Planalto quer jogar com rapidez, fazendo com que a redução dos juros das dívidas compense as eventuais perdas decorrentes da guerra dos portos. “Fico gratificado ao ver que essas pautas entraram definitivamente num viés de encaminhamento prioritário.”
Resolução 72 é considerada inconstitucional, diz jurista
O
jurista Roque Carrazza considera uma “inconstitucionalidade aberrante” o
projeto de resolução 72/2010 do Senado, que uniformiza a alíquota do
ICMS interestadual na comercialização de produtos importados. Carrazza,
que participa de audiência pública em duas comissões da Casa sobre o
assunto, disse que a mudança deveria ser feita por meio de projeto de
lei complementar e não por uma resolução do Senado.
Segundo
ele, a Constituição diz que qualquer projeto que propõe eliminar ou
reduzir alíquotas do imposto tem de ser aprovado separadamente pelos
deputados e senadores, em votações com maioria absoluta, ou seja, mais
da metade da composição de cada uma das Casas.
Para o jurista,
também não é possível dar tratamento fiscal ou tributário diferente a
operações com produtos importados e a similares nacionais, conforme
prevê a resolução. Segundo ele, o Supremo Tribunal Federal (STF) já deu
decisões nesse sentido. Carrazza disse que a resolução até poderia fixar
o percentual do ICMS, mas não poderia, por causa do “princípio da
seletividade” utilizar percentuais diferentes para produtos importados e
similares nacionais. “Os bens importados devem receber o mesmo
tratamento do nacional”, afirmou.
Na mesma linha de
raciocínio, o doutor em Direito Tributário e professor Fábio Canazaro,
diz que o governo confunde o contribuinte quando aplica aumento de 30
pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de
carros importados, por exemplo, e cria uma alíquota mais baixa para o
ICMS para mercadorias vindas de fora do País. Com base nisso, o
professor entende que a Resolução 72 está na contramão do crescimento do
País. “É o maior absurdo dar incentivo às indústrias estrangeiras, isso
é contra o desenvolvimento”, critica. Para ele, a disparidade existente
entre os ICMS só se resolveria com a Reforma Tributária.
Apesar
disso, Canazaro admite que o movimento de unificação possa representar o
início da tal sonhada mudança no sistema tributário nacional. Porém, o
especialista só acredita numa transformação paulatina e diz que o Brasil
já está atrasado para começar essa reestruturação. “Os estados estão
destruindo com as suas indústrias”, lamentou.Fonte: Jornal do Comércio RS - Caderno de Contabilidade
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