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terça-feira, 2 de outubro de 2012

SGC têm dificuldade para deslanchar

Valor Econômico
Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo
Populares em Portugal, Alemanha, Itália e Argentina, as Sociedades de Garantia de Crédito (SGC) começam a ganhar espaço no Brasil. Hoje, são apenas seis. Até o início de 2013, deverão somar 10. Como o próprio nome já diz, são entidades de âmbito local ou regional dotadas de recursos privados e públicos, com objetivo de prestar uma garantia complementar às operações das micro e pequenas empresas associadas. "As sociedades auxiliam as empresas no relacionamento com os agentes financeiros no processo de acesso ao crédito, aumentando as chances da operação se concretizar", afirma Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae.

No Brasil, as Sociedades de Garantia de Crédito surgiram em 2003, com a instalação da GarantiSerra, no Rio Grande do Sul, com atuação regional, basicamente na serra gaúcha. Por anos, atuou sozinha até que, em 2008, o Sebrae realizou uma chamada pública para fomentar o serviço, considerado uma inovação financeira no Brasil.

A partir daí começaram a surgir novas sociedades nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais, com operação real no segundo semestre de 2011. Até junho deste ano, 835 operações foram realizadas. A meta, de acordo com Santos, é chegar em 2016 com 7.693 operações, uma carteira de garantia de R$ 22.095.949 e R$ 85.652.291 em empréstimos garantidos.

As SGC brasileiras seguem o modelo europeu com características associativista e mutualista, de caráter privado e possibilidade de participação do Estado. "Até agora, mais de 900 pequenos empresários contam não só com a ajuda nas operações de crédito de seus associados junto aos agentes financeiros, mas também com uma assessoria empresarial na estruturação de projetos de financiamento", afirma Santos. "Trata-se de uma forma especial de união para dar força de negociação aos pequenos negócios frente aos agentes financeiros".

De acordo com o diretor do Sebrae, a popularização das Sociedades de Garantia de Crédito depende mais das lideranças empresarias do que das sociedades em si, porque as SGCs estão vinculadas a associações comerciais, câmaras de dirigentes lojistas, federações de micro e pequenas empresas e têm como principal parceiro financeiro as cooperativas de crédito.

Em operação desde março de 2011, a GarantiOeste é parceira de cooperativas das cidades de Toledo, Cascavel, Foz do Iguaçu, Assis Chateuabriand, Entre Rios do Oeste, Guaíra, Palotina, Santa Helena, Itaipu, São Miguel do Oeste e Marechal Rondon, no Paraná. Tem capacidade de alavancar cerca de R$ 7 milhões e já garantiu R$ 5,4 milhões para mais de 350 associados, com 292 cartas emitidas. "Nosso limite máximo de garantia por operação é de R$ 70 mil para microempresários e empreendedores individuais, esses últimos responsáveis por 110 contemplações de crédito", afirma Augusto Sperotto, presidente da Garantioeste.

O executivo destaca, ainda, que o grande desafio para a popularização das SGC está na mudança do jeito de pensar dos agentes financeiros, que ainda não enxergam que emprestar dinheiro a juros menores e com baixo risco é mais lucrativo do que oferecer crédito com altas taxas. "As sociedades ganharão corpo quando os resultados começarem a aparecer na economia. Com o dinheiro a custo baixo, as empresas tornam-se mais competitivas, podem comprar mais barato e modernizar suas estruturas de venda. É o dinheiro que move o ciclo virtuoso da economia", afirma. "Daí as Sociedades de Garantia de Crédito serem importantes para assegurar longevidade a empresas que estavam fadadas ao fracasso."

Não só na Garantioeste, mas nas seis sociedades em operação no país, foi preciso convencer os bancos a aceitar as cartas de garantia e, também, mostrar aos pequenos empreendedores que há no mercado oferta de crédito mais barato até mesmo que as apresentadas pelas linhas subsidiadas. A dificuldade é tamanha que há SGCs prontas para operar, constituídas, mas que não conseguem iniciar os trabalhos por falta de parceiros.

É o caso da Garantinorte, criada em meados de 2010 e lançada em novembro de 2011, no Rio de Janeiro, com atuação voltada principalmente às bacias de petróleo e gás, nas regiões de Campos, Macaé e São João da Barra. "Hoje, contamos com 300 associados, um fundo garantidor de R$ 2,4 milhões e previsão de dobrar esse valor, porém estamos paralisados", afirma Jorge Luiz Gomes da Silva, diretor executivo. "No Rio de Janeiro não há nenhuma cooperativa de crédito que atenda empresas."

Em negociação com o Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e Santander, a Garantinorte espera em um ano de operação somar 340 sócios, 102 operações de crédito e alcançar R$ 3 milhões de crédito liberado. "Trata-se de um grande desafio porque a SGC ainda é um conceito muito novo para os bancos, que têm fundos próprios", reforça Silva, observando que a relação das sociedades com os microempresários é de sócio, com presença no dia a dia da empresa, a fim de ajudar os pequenos empreendedores a deixar a gestão do negócio em ordem.

Segundo ele, as micro e pequenas empresas têm dificuldade de toda ordem para obter linhas de crédito que caibam no caixa, como falta de transparência na estrutura contábil, pouco poder de barganha e escassas garantias a oferecer. "Nosso trabalho é preparar os micro de pequenos negócios para receber o crédito na quantidade certa, no prazo ideal e a custos justos, o mesmo acontecendo em relação aos empreendedores individuais", diz.
 
Liberações ágeis são atrativo para microempresas

Foi em uma palestra ministrada na Associação Comercial de Entre Rios do Oeste, no Paraná, que o empresário Alexandre Stein, dono da Serlutur Agência de Turismo, ouviu falar pela primeira vez nas chamadas Sociedades de Garantia de Crédito.

Prestou bastante atenção na palestra e percebeu que poderia estar embutida naquela proposta a solução para a compra de dois novos ônibus para a sua empresa. "Saí da palestra decidido a ir atrás da carta de garantia de crédito, que me dava a chance de conseguir dinheiro com taxas mais baixas que as praticadas pelo banco onde sou correntista", lembra Stein.

O processo foi rápido, a única exigência colocada era que a empresa se associasse à cooperativa de crédito Sicoob. Stein tomou um empréstimo R$ 70 mil, com 36 meses para amortização da dívida, montante suficiente para dar entrada nos ônibus. "No futuro, se a empresa precisar, com certeza percorrerei o mesmo caminho", declara.

Ao contrário do que aconteceu com Stein, o problema enfrentado pelo empresário Luis Fernando Massenz Gomes, sócio da Methos TI, fabricante de softwares sediada em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, não eram apenas as taxas de juros, mas principalmente as garantias exigidas pelos bancos.

"As linhas oferecidas para inovação foram desenhadas para qualquer tipo de empresa, menos as de tecnologia, que têm no capital humano seu principal bem", afirma o empresários.

"Por mais que a gente se esforce, jamais conseguiremos apresentar as garantias que os bancos exigem, mesmo aqueles que se dizem parceiros das micro e pequenas empresas", afirma.

Com poucas chances de conseguir recursos nos bancos, recorrer às Sociedades de Garantia de Crédito foi o caminho que Gomes encontrou para obter R$ 150 mil para capital de giro, em quatro operações distintas. "Em duas semanas estávamos com o dinheiro em caixa, um carnê para ser pago em 24 parcelas e crédito a custo mais enxuto e menos burocrático", comemora.

Foi também para fugir da burocracia e da resistência do banco em que a empresa tinha conta para fazer alguma liberação de crédito que os sócios da Restauradora de Veículos Irmãos Martins, de Caxias do Sul, também no Rio Grande do Sul, decidiram buscar a ajuda do Sebrae.

Foi por meio dessa consulta que o empreendedor Juliano Martins pode conhecer o funcionamento das Sociedades de Garantia de Crédito e decidiu apostar no serviço.

"Os consultores da Garantiserra vieram várias vezes à empresa para conhecer de perto as nossas dificuldades, como trabalhávamos e o nosso histórico", lembra Graziele Gomes, analista financeira da Irmãos Martins.

"Foi só depois que tudo estava alinhado que eles encaminharam nosso pedido para o comitê gestor que, depois de uma análise criteriosa, entrou em contato com a cooperativa de crédito que considerava mais talhada para o nosso perfil e liberou a carta", explica a profissional.

O empréstimo de R$ 24 mil para capital de giro foi contraído a taxas menores que as praticadas pelo mercado para ser pago em 24 meses. "Não temos vínculo nenhum com quem nos deu o crédito, realizamos uma transação comercial simples e eficiente", explica Graziele. Minha única obrigação é pagar o boleto bancário na data certa", afirma.
 
Fonte: Valor Econômico
Matéria divulgada no site do Conselho Federal de Contabilidade

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