Bicicleta sem impostos vira bandeira para melhorar o trânsito
Com elevada carga tributária, produto fabricado no Brasil segue entre os mais caros do mundo
Fonte: Economia & Negócios - Estadão
SÃO PAULO - Uma bicicleta de passeio
com roda aro 26 e câmbio de 21 marchas, vendida a R$ 600 no Brasil,
poderia custar menos de R$ 360 se não fosse o peso dos impostos no País.
Como alternativa para resolver o problema da mobilidade nas grandes
cidades, os defensores das bicicletas estão defendendo a redução da
carga de impostos que é de 40,5% segundo a Aliança Bike, que reúne
entidades do setor.
Desde 1985, 27 projetos propondo a desoneração das bicicletas já
foram colocados em votação na Câmara dos Deputados. Até hoje, nenhum foi
aprovado, mas as bicicletas produzidas no País seguem entre as mais
caras do mundo, ainda que a maioria dos consumidores seja de baixa renda
e utilize o produto como meio de transporte.
Mobilização. A Aliança Bike e a Associação Brasileira da Indústria,
Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios
(Abradib) se aliaram na mobilização pelo corte dos impostos. Elas querem
baratear também os componentes importados, como sistema de câmbio, que
não são produzidos no país.
De acordo com Ana Lia, diretora-executiva da Abradib, há uma
contradição de políticas no Brasil pois, enquanto o governo estimula o
uso de bicicletas por meio do Ministério das Cidades, desestimula as
indústrias quando recomenda que se instalem em Manaus para fugir dos
impostos.
"Como o produto é de baixo valor agregado, ele precisa ser produzido
próximo do mercado consumidor", explica Ana. Para ela, diferentemente do
perfil produtivo que dá certo na capital amazônica, a fabricação de
bicicletas não faz uso intensivo de mão de obra e de capital. "Hoje só
16% da produção está lá, o resto está espalhado pelo Brasil", afirma.
Para a deputada federal Marina Santanna, de Goiás, as ciclovias em
grandes capitais pode favorecer a melhoria do trânsito e ajudar a
pressionar a aprovação de projetos para baratear as bicicletas.
Ela é autora do PL 4294 de 2012, parado na Comissão de Finanças e
Tributação, que desonera bicicletas, suas partes e acessórios de Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI), da Contribuição para os
Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor
Público (PIS/PASEP) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social (COFINS).
"Com estímulo para que as pessoas comprem bicicletas, com preços
reduzidos, isso pode criar uma integração de necessidades", avalia a
deputada, que reconhece no ciclismo uma saída para o trânsito caótico em
grandes cidades, além de uma medida para evitar problemas de saúde.
Impostos. Segundo um estudo realizado pela Tendências Consultoria
Integrada a respeito do setor de bicicletas no Brasil, esse tipo de
produto está sujeito a uma tributação média de 68,2% sobre o custo de
fabricação.
A análise da Tendências indica que há uma grande disparidade no País.
Enquanto uma bicicleta com peças 100% nacionais produzida na Zona
Franca de Manaus tem tributação acumulada de 7,9%, aquelas fabricadas em
outras regiões, com uso de peças importadas, são tributadas em 80,3%.
Mesmo na zona franca, se uma bicicleta utilizar peças importadas, o
peso dos impostos sobe para 37,6%. No caso das importadas, a tributação
vai a 107%. Esses valores desconsideram a substituição tributária,
aplicada em alguns Estados, que elevaria ainda mais o custo ao
consumidor.
"São três grandes frentes que influenciam drasticamente o acesso à
bicicleta: infraestrutura, cultura e carga tributária", avalia Marcelo
Maciel, presidente da Aliança Bike. Para ele, as esferas federal,
estadual e municipal precisam trabalhar de forma conjunta.
"A altíssima carga tributária incidente sobre a bicicleta, maior do
que a que incide sobre motocicletas e automóveis, precisa ser reduzida",
acrescentou.
Matéria divulgada no site do IBPT - Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação
Nenhum comentário:
Postar um comentário