Rafael Vigna
Uma pergunta costuma deixar os empresários em apuros: quanto vale seu
empreendimento? No entanto, esta resposta pode se tornar uma aliada de
sócios e proprietários na busca por novas transações, e uma ferramenta
importante para alavancar a atividade em um mercado cada vez mais
dominado pelas fusões e aquisições
O cenário favorável às
fusões e aquisições, moldado pela evolução positiva do Risco País na
última década, e o consequente ingresso dos fundos de investimento em
Private Equity, trazem uma nova realidade ao mercado de capitais
brasileiros e, na garupa, uma pergunta que tem deixado os empresários em
saias cada vez mais justas: quanto vale a sua empresa?
Para
se chegar a uma resposta ao questionamento, afirmam os especialistas, é
preciso tempo, paciência, conhecimentos técnicos e muito cuidado para
não deixar de receber o retorno justo na hora de comprar ou vender. No
entanto, o fato de se ter em mente o preço real do empreendimento pode
se tornar uma potente ferramenta para gerar novos negócios e até mesmo
alavancar as atividades existentes.
Na carona das
circunstâncias, consultores, boutiques financeiras e empresas
especializadas em avaliação se colocam no mercado com a intenção de
atuar como mediadores nas duas pontas da cadeia. Buscam vendedores, de
acordo com a demanda dos grandes fundos ou, do contrário, procuram por
compradores para negócios dos mais variados segmentos e tamanhos. E são
raros os casos de casos de sócios ou proprietários sem experiência em
abertura de capital em bolsa que não se surpreendem com o resultado
final do processo de precificação.
Em ação no segmento há
pelo menos sete anos, o especialista em Direito Comercial, Tributário e
Mercado Financeiro Rogério Sfoggia já liderou diversas operações nos
mais variados portes e diz perceber a evolução das fusões e aquisições,
principalmente a partir de 2010 e 2011, quando o superávit do fluxo de
dólares no mercado brasileiro superou US$ 65 bilhões.
O
movimento segue forte em 2012. Prova disso é que, no mês de maio, de
acordo com um levantamento da PricewaterhouseCoopers (PwC), foram
realizadas 86 transações, o maior número registrado desde dezembro de
2010 e o segundo melhor desempenho da história.
Ao todo, a
soma projeta um total de 327 fusões e aquisições no ano, resultado que
representa um índice 3% acima do que o do ano passado. Os dados ainda
demostram que o Brasil mantém um perfil multisetorial. O campo de TI
permanece como o alvo principal das empresas que realizam investimentos
no País, com 43 operações realizadas. Em logística foram 35 transações,
varejo 29, e, em serviços públicos, 27.
“Empresários que nunca
passaram por um processo de fusão e aquisição, principalmente aqueles
que montaram seus negócios e trabalharam neles a vida inteira, não fazem
a menor ideia de quanto valem suas empresas. Isso porque desconhecem os
critérios técnicos de uma avaliação. Existem metodologias que podem ser
utilizadas para isso”, alerta Sfoggia.
Na opinião do
consultor, a maior parte dos proprietários que não recebe aconselhamento
profissional tende a acreditar que seus negócios têm uma avaliação
inferior ao que realmente valem. Isso porque as fórmulas técnicas
utilizadas no cálculo não consideram a má gestão e o endividamento.
Muitas vezes, os dois fatores juntos são responsáveis por influenciar
negativamente a rentabilidade. Entretanto, na aferição dos critérios, os
fenômenos costumam ser tratados em separado. Por isso, os resultados de
uma determinada empresa, que à primeira vista não parecem atrativos,
podem significar apenas uma má gestão, ocasionada pela falta de
profissionalização.
“Já presenciei casos em que o faturamento
era de R$ 100 milhões, mas o lucro líquido era de apenas 1% em razão do
nível elevado de endividamento e erros de gestão. Com um comprador
profissional para precificar a empresa, não seriam levados em
consideração esses fatores e outras variáveis capazes de justificar o
desempenho”, explica. Com isso, a empresa pode valer muito mais do que o
empresário imagina. Ou seja, por puro desconhecimento os empresários
não se estruturam de uma maneira atrativa para os compradores.
Com
base nisso, Sfoggia separa as transações em duas modalidades. As que
seguem estritamente os critérios profissionais e ocorrem com um fundo de
investimentos por trás, ou entre empresas sem gestão adequada. No
segundo caso, é preciso estar atento para não perder dinheiro, pois o
mais provável, segundo ele, é que haja supervalorização ou subvaloração.
Formação de preços
Dicas
Nunca negocie sem antes avaliar. Procure consultorias e empresas especializadas no assunto
Formação de preços
Dicas
Nunca negocie sem antes avaliar. Procure consultorias e empresas especializadas no assunto
- Comprar ou Vender
O objetivo deve ser sempre calcular o preço justo e evitar perdas, independentemente do tamanho do negócio. - Criar uma nova empresa
O objetivo deve ser calcular o valor justo do projeto, comparando-o com os investimentos necessários. Se o valor justo é maior, o negócio será viável economicamente. - Fusões e aquisições
O objetivo deve ser calcular o novo valor da empresa modificada. Se superar o valor da soma da empresa antes da modificação mais o novo investimento, a viabilidade econômica será garantida.
Metodologias
Para
obter o preço ou valor de uma empresa, é necessário projetar
expectativas e cenários e escolher uma metodologia precisa. Existem
várias no mercado e a de melhor resultado será aquela elaborada com base
em padrões matemáticos, contáveis e financeiros.
- Métodos com base em dividendos pagos e crescimento histórico, muitas vezes, desconsideram fatores como vendas, custos, inflação esperada, juros do mercado e impostos.
- Índices de mercado como o Preço/Lucro (P/L), levam em conta dados do passado que podem não se repetir no futuro e relegam postulados financeiros e o equilíbrio contábil.
- Na Teoria de Opções o valor depende de eventos desconhecidos. O exemplo seria uma mineradora com custos de extração insuficientes para lucro, em razão dos preços internacionais do mineral ainda estarem baixos.
- O Fluxo de Caixa Descontado (FCD) aproxima os preços de mercado, com base na procura equilibrada pelo preço justo.
Passo a passo
Antes de concretizar a opção pela compra ou venda e definição do preço final, a análise deve contemplar algumas etapas como:
- Calcular o investimento inicial
- Preparar a lista de premissas, a projeção de vendas, a de custos e a de despesas.
- Em seguida, é necessário calcular a projeção de financiamento, o retorno esperado, o retorno requerido e o retorno equilibrado.
- Estes fatores resultarão na definição do retorno justo, para, mais tarde, chegar ao valor justo esperado ou intrínseco da empresa.
Cuidados na hora da analisar a avaliação
- A avaliação entregue deve ser compreendida por qualquer financeiro no mundo, seja escandinavo, mexicano, africano ou japonês.
- Conferir para que em qualquer projeção de expectativas ou cenário escolhido, o balanço geral esteja equilibrado contabilmente.
- Conferir também para que em qualquer projeção de expectativas ou cenário escolhido, o demonstrativo do fluxo de caixa esteja equilibrado contabilmente.
Tipos de precificação e valores
- Valor Justo Esperado: é o valor pelo qual uma empresa poderia ser negociada em um mercado competitivo e aberto, ou em troca justa entre vendedor e comprador que se pressupõem conhecedores do negócio, sem que a transação possua caráter de urgência.
- Valor Intrínseco: é uma opinião de valor, produzida por um avaliador, analista, baseada na percepção das características inerentes ao investimento, sem tomar em consideração um investidor específico.
- Valor fundamental: é uma perspectiva utilizada no mercado de capitais em que o valor intrínseco da ação pode ser determinado por meio de uma avaliação rigorosa de variáveis como lucro, dividendos, estrutura financeira, qualidade da gestão e perspectivas de mercado.
- Valor para o investidor (investment value): Ao contrário dos conceitos anteriores, são consideradas variáveis específicas que dizem respeito ao investidor.
- Valor residual: É o valor da empresa no final do período de previsão discreta explícita.
- Valor contabilístico ajustado: É dado pelo valor contabilístico, após a adição ou subtração de valores ao ativo e ao passivo contabilístico da empresa.
- Valor substancial: Consiste na adição das estimativas de valor para cada item do património social da empresa, com base em critérios específicos como preços históricos e preços correntes.
Parâmetros de mercado ajudam a evitar discrepâncias
Para
evitar disparidades no momento de precificar os negócios, um dos
aliados do mercado é o Ebitda (sigla para Earnings Before Interest,
Taxes, Depreciation and Amortization). Em resumo, o dado é constituído
de um valor de lucro que desconsidera os juros e impostos e serve de
parâmetro para as negociações. De acordo com o momento, cada setor
econômico possui um multiplicador base.
Companhias de
construção civil são vendidas com preço fixado entre dez e 20 vezes o
valor do Ebitida. As farmacêuticas entre sete e 15 vezes. Atualmente,
também pode ser conhecido o patamar considerado positivo para uma
empresa de varejo, por exemplo. Assim, qualquer desempenho abaixo do
estabelecidos lançará luz sobre os problemas de gestão.
Companhias
com capital aberto têm que disponibilizar essas informações em balanço.
Mas, como a economia não gira apenas para as grandes, a sócia-executiva
da ABC Capital Partner, Deia Gorayeb, que esteve à frente de operações
recentes no Rio Grande do Sul, destaca a necessidade de análises
profundas nas áreas de finanças, planejamento estratégico e comercial.
Segundo
ela, ainda existe uma infinidade de grandes corporações na primeira ou
segunda geração de administradores. Às vezes, isso ocasiona surpresas
com o “apego” e a falta de modernização na gestão. “Muitos entendem que o
valor do negócio, além do financeiro, teria algo de emocional, o que
dificulta um pouco o trabalho”, revela.
Isso é perceptível, de
acordo com Deia, no que tange ao valor pretendido para as marcas. “Para
os empresários, a marca tem muito valor, mas para o mercado financeiro o
verdadeiro valor está nos resultados que podem ser obtidos. Sem
resultados não há valoração, e algumas pessoas ficam extremamente
chateadas quando são confrontados com a realidade”, conta.
A
situação contrária costuma ser menos usual e mais restrita ao universo
nos negócios de menor porte. Neste caso, as autoavaliações são mais
humildes e o preço real, muitas vezes, é motivo de espanto por superar
todas as expectativas dos proprietários.
Avaliação é aliada contra crise financeira
A economia dinâmica, a competição acirrada e a conquista de novos mercados determinam que o cálculo justo do valor de uma empresa possa superar a própria necessidade da compra ou venda. Sob a ótica macroeconômica, as finanças corporativas dependem de dois aspectos: a rentabilidade e o risco. Com base nessa constatação, o especialista em finanças, consultor nas áreas de avaliação de empresas, projetos de engenharia, construção de fábricas e recuperação de empresas Isaac Hayon Sasson defende que quando se consegue chegar ao preço real de um empreendimento, é possível evitar “dois dos maiores males da humanidade”, as bolhas e as crises financeiras.
Avaliação é aliada contra crise financeira
A economia dinâmica, a competição acirrada e a conquista de novos mercados determinam que o cálculo justo do valor de uma empresa possa superar a própria necessidade da compra ou venda. Sob a ótica macroeconômica, as finanças corporativas dependem de dois aspectos: a rentabilidade e o risco. Com base nessa constatação, o especialista em finanças, consultor nas áreas de avaliação de empresas, projetos de engenharia, construção de fábricas e recuperação de empresas Isaac Hayon Sasson defende que quando se consegue chegar ao preço real de um empreendimento, é possível evitar “dois dos maiores males da humanidade”, as bolhas e as crises financeiras.
“Todas as
crises - recentes ou históricas - foram originadas por bolhas, que nada
mais são do que valorar algo de maneira equivocada. A mais recente, a do
subprime, não é diferente, e papéis que valiam US$ 8,00 eram vendidos a
US$ 40,00, em razão da confiança de que teriam um lastro que na verdade
não existia. Em síntese, tudo está ligado ao valor que se dá a algo”,
resume.
Para ele, o fato de submeter uma avaliação de preço à
empresa resulta em um diagnóstico completo de todas as áreas envolvidas
e também colabora na identificação de pontos prioritários para
investimentos. “Se os empresários estiverem aptos a avaliar algo que
produz renda, estarão com um enorme poder na mão. Pode ser uma máquina,
uma pessoa, um atleta, por exemplo, um animal ou até mesmo uma fábrica.
Qualquer coisa que produza um fluxo de caixa permite que se faça esta
avaliação”, afirma.
Palestrante e ministrante de cursos sobre
o assunto, Sasson ainda mantém um site com artigos direcionados ao
esclarecimento do tema. Entretanto, na prática, diz ele, o valor de uma
empresa está ligado de forma direta ao seu futuro. Em razão disso,
explica que atualmente são aceitos três tipos de avaliações: O Fluxo de
Caixa Descontado (FDC), que considera o valor do dinheiro no tempo, os
índices de Preço e Lucro (P/L), que funcionam mais para a análise dos
papéis vendidos em bolsa de valores, e a Teoria de Opções, que depende
de eventos ainda desconhecidos.
Fonte: Jornal do Comércio RS
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