Fernanda Zandonadi | fzandonadi@redegazeta.com.br
Não há como fugir deles. Os impostos estão em todas as partes. Na
hora das compras, ao ligar uma luz, abastecer o carro ou pagar a
mensalidade da escola dos filhos. É muita taxa. Os automóveis são um
exemplo claro da alta carga tributária. Um Gol GIV 1. 0 que custa, na concessionária R$ 28.504 tem, embutidos no preço, R$ 6.715,71 em
impostos. Quer dizer, 23,5% do dinheiro pago no carro vão para o caixa
do governo.
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Para
chamar a atenção sobre o quanto se paga de impostos, o Centro da
Indústria do Espírito Santo (Cindes) Jovem promove, hoje, no Feirão do
Imposto, na Praia do Canto, a venda de um carro zero quilômetro por R$
21 mil. O Gol 1.0 só poderá ser vendido por esse preço por conta dos
descontos dos impostos. “A ação é para mostrar o quanto de impostos
pagamos. O pior é que esse montante não volta para ele em forma de
serviços”, explica o presidente Cindes Jovem, Duar Pignaton.
Cada brasileiro paga, em média, 41,08% de tudo o que ganha no ano em
impostos. Em números absolutos, o governo arrecada cerca de R$ 54 mil em
impostos a cada segundo. “Pegamos a arrecadação deste ano e dividimos
por dias, horas e minutos para termos ideia de quanto pagamos. Em cada
piscada nossa, entra R$ 54 mil nos cofres do governo”, explica o
presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT),
João Eloi Olenike.
Apesar de termos uma das maiores cargas
tributárias do mundo – estamos entre os 30 países com maior taxação do
planeta –, o Brasil continua sendo o que proporciona o pior retorno de
valores arrecadados em prol do bem-estar da sociedade. Na prática quer
dizer que o brasileiro está pagando ao governo por serviços de qualidade
(escolas, saúde, infraestrutura) e recebendo um produto muito, muito
inferior. No popular, é o famoso comprar gato por lebre.
Os
números fazem parte do estudo Carga Tributária/PIB x IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano), do IBPT, que faz uma comparação entre impostos
pagos e o índice de retorno de bem-estar à sociedade. O estudo mostra,
por exemplo, que o Brasil, com arrecadação altíssima e péssimo retorno
desses valores, fica atrás, inclusive, de países da América do Sul, como
Uruguai e Argentina.
Bolo
Cobrar essa
conta não é tarefa fácil, já que os tributos vão tanto para o governo
federal quanto Estados e municípios. Mas há endereços. “Os Estados
recebem parte do IPI e do IR, por exemplo, e transferem parte do
dinheiro para os municípios. Mas o governo federal prefere as contribuições, que não precisam ser divididas com os Estados. Quer
dizer, os impostos, como Imposto de Renda e IPI, têm que ser divididos.
Já as contribuições, como PIS e Cofins, ficam no bolso da União”,
explica Olenike.
Mesmo quando há uma ilusão de boa vontade do
governo, há o outro lado. Caso da redução do IPI. “Toda desoneração
termina em oneração em outro setor. A Lei de Responsabilidade Fiscal
aponta que cada vez que ocorrer renúncia fiscal será preciso apontar
outra fonte de recursos para cobrir esses valores. No caso da queda de
IPI, possivelmente houve aumento do imposto em outros produtos”.
O empresário também sofre, pois a tributação é altamente focada no
faturamento bruto. “E quando eu vendo um produto, tanto posso ganhar
quanto perder. Se tiver prejuízo, não interessa ao governo, que já
recolheu os tributos. E essa alta tributação prejudica em cheio o consumidor, pois o peso dos impostos é colocado nos produtos”.
Essa falta de clareza de de onde vem e para onde vai o dinheiro é o
principal alvo de reclamações. “ Hoje são mais de 70 impostos e taxas
que incidem sobre o cidadão, do Imposto de Renda, que é retido na fonte,
aos impostos sobre produtos e serviços, como iluminação e recolhimento
de lixo”, disse Pignaton.
Quando: Hoje, de 9h às 16h
Onde: na Praia do Canto, em Vitória, entre as ruas Chapot Presvot e Aleixo Neto
Consumidor paga, em média, 36% ao governo ao comprar medicamentos
A carga tributária inclusa no preço dos medicamentos também pesa no
bolso do consumidor. Ela representa, em média, 36% do valor do remédio,
segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Em
algumas compras, o tributo recolhido pelo governo equivale a quase um
terço do total pago.
Foto: Gabriel Lordêllo
Aura Cardoso |
A aposentada Aura
Cardoso, 80, gasta cerca de R$ 400 por mês em remédios para diabetes e
tireoide. Desse total, cerca de R$ 144 são tributos que vão para os
cofres do governo. “Infelizmente, é muito dinheiro. A gente não tem
alternativa”.
Foi
esse cálculo que surpreendeu a bancária Maria Lúcia Silva Sampaio, 37,
na tarde de ontem, após comprar seis medicamentos entre
anti-inflamatórios e analgésicos prescritos por um médico para combater a
inflamação no ombro da filha, a estudante Luana Sampaio Olegario, 21.
No cupom fiscal emitido pela farmácia, na Praia do Canto, em Vitória,
estava discriminada a taxa de imposto.
“Paguei R$ 95,70 no total, sendo que R$ 30,71 são tributos, que representam 32,09% do total da compra. É muito alto! É um terço da compra. Com o valor da taxa daria para levar mais um remédio”, detalhou.
Para combater uma gripe,
a dentista aposentada Ivete Cruz Souza também mandou para os cofres
públicos cerca de um terço do que pagou nos remédios. Da conta de R$
57,83, os tributos inclusos abocanharam R$ 18,56. “Na correria, a gente
acaba nem notando que paga tanto de imposto”.
Rombo
Aos 80 anos, a aposentada Aura Cardoso gasta mais da metade do
benefício com os remédios para diabetes e tireoide. Ela diz que do
salário mínimo recebido da Previdência, cerca de R$ 400 ficam nas
farmácias. Desse valor, calculando a média de 36% de impostos que
incidem sobre os medicamentos, segundo o IBPT, cerca de R$ 144 são
tributos.
“É muito dinheiro por mês. Mas a gente não tem outra
alternativa a não ser comprar os remédios. Essa despesa é fixa, mas se
por acaso surge qualquer outro tipo de doença o gasto é maior”, explica.
Para amenizar o rombo no orçamento, ela diz que conta com o apoio financeiro do filho nas despesas.
Fonte: A Gazeta
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