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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Bancos gaúchos fazem maior parte das contratações

Contratações no Banrisul foram na contramão de instituições privadas

Patrícia Comunello

O Rio Grande do Sul salvou o mercado de vagas no setor bancário brasileiro em boa parte de 2012. Do saldo positivo de 2.876 vagas (entre admissões e demissões) até setembro passado no País, 1.153, ou 40% do desempenho, foram geradas nas agências gaúchas, principalmente nas do Banrisul, que encerrou o ano com 29 novas unidades de atendimento. O quadro de pessoal terminou com 1,2 mil empregados a mais frente a dezembro de 2011, destoando do comportamento dos maiores grupos do varejo bancário comercial, que reduziram postos para melhorar ou neutralizar a perda de eficiência, devido a juros menores e spreads na mira do governo federal.

“Os bancos públicos salvaram o estoque de vagas em 2012”, sentencia o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Ademir Wiederkehr, citando que a Caixa Econômica Federal termina o ano ampliando 5 mil pessoas na estrutura. A Pesquisa de Emprego Bancário, coordenada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostrou ainda queda de 84,2% no saldo até o terceiro trimestre (números disponíveis) frente ao mesmo período de 2011. No Estado, o órgão apurou alta de 1,41% no saldo recente, onde quase a totalidade dos 852 postos é creditada ao banco estadual.

Para o analista da Austin Rating Luis Miguel Santacreu, juros mais baixos e expansão de crédito acanhada levam as instituições a olhar mais despesas (emprego vira alvo) para manter rentabilidade e o nível do Índice de Eficiência Operacional (IEO) - que quanto menor, melhor. Dos grandões, Bradesco, Santander e Itaú Unibanco ostentam melhor performance (ver quadro). Santacreu recomenda cautela, pois há custos para demitir, e qualquer reviravolta no cenário exigirá fôlego da operação. “É prudente que os bancos não sejam tão impulsivos”, indica. O analista previne, mesmo sabendo que os spreads no Brasil ainda são elevados, que o setor terá de diversificar receitas, atuando em seguros e mercado de títulos privados.

A direção do Banrisul justificou que o quadro aumentou (saiu de 9.345 funcionários em dezembro de 2010 para 11.456, em 31 de dezembro passado) para ampliar pontos e fontes de ganhos, manter a fatia de mercado e baratear o dinheiro. Boa parte das contratações veio da redução de 2,1 mil para pouco mais de 300 estagiários. Para o banco, sai a mão de obra barata e entra a que pode dar mais receita. “Estamos preparando o banco para um novo momento. A carteira de crédito crescerá este ano 21%, acima dos concorrentes, e a receita com seguros, que era de R$ 17 milhões em 2010, deve bater em R$ 60 milhões”, antecipa o presidente da instituição, cuja maioria do capital é do Estado, Túlio Zamin. “É ritmo de economia forte.” Os investidores privados estão bem informados sobre as decisões.

Zamin se arma para explicar o efeito da alta de gastos (a despesa com mão de obra cresceu 12,4% no terceiro trimestre, ao lado do recuo de 10% na receita) no IEO, que subiu quase um ponto percentual entre o primeiro trimestre de 2011, antes de a nova gestão assumir, e o último balanço. “Tivemos também custos da aquisição da Bem-vindo (rede de consignado) e da primeira captação no Exterior para reduzir custos de empréstimos. Isso fatalmente atingiria o índice, mas a tendência agora é estabilizar ou cair”, aposta o dirigente. Até 2014, a intenção é manter o ritmo, chegando a 84 novas agências. “Vamos calibrar a dose e a velocidade para expandir a receita, mas de olho na despesa”, adianta o presidente.

Santacreu, que analisa o risco da instituição, avisa que os resultados das decisões serão cobrados trimestre a trimestre. No fim de 2012, o principal papel do banco na BM&FBovespa fechou com queda de 18,1%. Carlos Müller, analista-chefe da Geral Investimentos, associou a cotação à trajetória de custos da opção. “Os investidores, de um modo geral, preferem movimentos mais conservadores, e isso pesou contra o Banrisul.”
 

Setor bancário vive terceira onda de enxugamento de vagas
 
O bancário J. resistiu por 30 anos às mudanças de dono do antigo Sulbrasileiro, que virou Meridional, depois Bozano, Simonsen e hoje Santander. No começo de dezembro passado, ele foi um dos 40 demitidos no Estado, entre quase 1,3 mil cortados pela instituição espanhola no Brasil. Ele ouviu justificativas para a medida na crise europeia e redução de custos. Graças à pressão do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, ele teve suspensa a rescisão devido a problemas de saúde. Em São Paulo, outros sindicatos do setor reverteram na Justiça mais de 400 demissões.

A economista da subseção do Dieese na Confraf-CUT Regina Camargos atesta que a política de cortes de 2012 interrompeu uma década de saldo ascendente nas contratações, boa parte alavancado por bancos públicos. Regina lembra que a categoria saiu de 1 milhão de postos para menos de 500 mil nos anos de 1990 e começo de 2000, corte associado ao fim da hiperinflação (desde Plano Real, em 1994), à tecnologia e às terceirizações. “Esta terceira onda está ligada à queda de juros e spreads. Quanto tempo vai durar não sabemos”, projeta a economista, citando que cortar pessoal para melhorar o Índice de Eficiência Operacional (IEO) não foi a única medida. A rotatividade aumentou, caiu a média salarial e 20% da remuneração é variável, ligada a metas.

O Dieese mostra que a Caixa expandiu 4,1 mil empregos entre dezembro de 2011 e setembro passado, e Itaú Unibanco reduziu quase 8 mil postos. “Um quer ser mais popular, precisa de gente para atender, outro quer atuar em nichos de alta renda.” 

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