Obra escrita por Douglas Adams faz representações metafóricas e
profundas sobre a vida real, as situações que enfrentamos, as
hierarquias e as firulas sem sentido da sociedade
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Por Eber Freitas, www.administradores.com.br
"Muito além dos confins
inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há
um pequeno sol amarelo e esquecido. Girando em torno deste sol, a uma
distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há um planetinha
verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida,
descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que
ainda acham que relógios digitais ainda são uma grande ideia".
O primeiro livro da série "O Mochileiro das Galáxias" foi escrito em 1978 pelo britânico - mas nada fleumático - Douglas Adams. Na verdade não era para ser um livro, e sim uma série radiofônica, mas depois virou livro. E embora alguns críticos considerem que a saga termina no quarto volume ("Até mais, e obrigado pelos peixes"), outros admitem que "Praticamente inofensiva" é uma parte integrante da famigerada série. E um sexto livro apócrifo, escrito após a morte de Adams por Eoin Coifer ("E tem outra coisa"), almejou juntar-se ao panteão. Enfim, é um pouco complicado explicar, só entende quem lê.
Em linhas gerais, a obra, apesar de esbanjar uma carga considerável de ironia e ter como palco nada menos do que o Universo, faz representações metafóricas profundas sobre a vida real, as situações que enfrentamos, as hierarquias e as firulas sem sentido da sociedade. É como se observássemos de fora como as coisas acontecem no planetinha verde-azulado, cujos habitantes não estão nem aí para o que acontece fora dele, e quem está fora tampouco se importa muito com a Terra - a ponto de demoli-la para construir uma via expressa hiperespacial (uma catástrofe terrível e idiota).
Ah, claro... não podemos nos esquecer do Marvin |
A partir da experiência de um olhar externo, existem algumas lições que podem ser encaixadas no cabedal de competências de um bom administrador. Vou relatar aqui pelo menos cinco e vou deixar que os leitores façam as demais considerações após a leitura da série "O Mochileiro das Galáxias".
1. Tenha sempre uma toalha a tiracolo
A toalha é o item mais precioso para um bom mochileiro, que não pode contar muito com itens pesados e de utilização complexa em lugares de difícil sobrevivência.
"[...] você pode usar a toalha como
agasalho quando atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode
deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de
Santragino V, respirando os inebriantes vapores marítimos; você pode
dormir debaixo dela sob as estrelas que brilham avermelhadas no mundo
desértico de Kakrafoon; pode usá-la como vela para descer numa
minijangada as águas lentas e pesadas do rio Moth; pode umedecê-la e
utilizá-la para lutar em um combate corpo a corpo; enrolá-la em torno da
cabeça para proteger-se de emanações tóxicas ou para evitar o olhar da
Terrível Besta Voraz de Traal (animal estonteantemente burro, que acha
que, se você não pode vê-lo, ele também não pode ver você - estúpido
feito uma anta, mas muito, muito voraz); você pode agitar a toalha em
situações de emergência para pedir socorro; e, naturalmente, pode usá-la
para enxugar-se com ela se ainda estiver razoavelmente limpa".
Um administrador mochileiro deve sempre contar com algo que lhe será
útil em todas as ocasiões: o próprio conhecimento. Não aquele
conhecimento especializado, segmentado e fatiado, mas o conhecimento
generalista e contextualizado, que lhe permita se sair bem em todas as
ocasiões - mesmo as mais perigosas e cruciais para a carreira. Não que
devamos abrir mão de nossas especialidades, mas não é sempre que elas
vão livrar a nossa cara. Em algumas situações, tudo o que você vai ter à
disposição é uma toalha e a criatividade.2. Não entre em pânico
Essa frase está estampada em letras garrafais no Guia do Mochileiro das Galáxias. Nunca se sabe o que se pode encontrar na amplitude do Universo, portanto qualquer coisa pode surpreender. Numa hora você pode estar diante de três copos de cerveja em um bar qualquer, e na outra pode estar a bordo de uma nave vogon - e sem nenhuma cortesia.
"Parecia um aparelho absurdamente
complicado, e esse era um dos motivos pelos quais a capa plástica do
dispositivo trazia a frase NÃO ENTRE EM PÂNICO em letras grandes e
amigáveis".
O administrador pode ser convidado a conhecer novas tecnologias, pode
estar diante de situações completamente desconhecidas, pode ter de
lidar com o cliente mais ignorante do pedaço - se ele for competente,
pode até ser chamado na sala do presidente da empresa para um bate-papo
ou para uma reunião estratégica do Conselho de Administração. Em todo
caso, tenha a sua toalha à mão e não entre em pânico.3. Respostas são insignificantes para as perguntas erradas
42. De acordo com o Pensador Profundo, essa é a Resposta fundamental sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais. Mas desde quando isso é uma pergunta?
"- Ó Pensador Profundo, a tarefa
que lhe cabe assumir é a seguinte: queremos que nos diga... - fez uma
pausa e concluiu: - ...a Resposta!
- A Resposta? - repetiu Pensador Profundo. - Resposta a que pergunta?
- A Vida! - exclamou Fook.
- O Universo! - disse Lunkwill.
- E tudo o mais! - exclamaram em uníssono. Pensador Profundo fez uma pausa para refletir.
- Essa é fogo - disse, finalmente."
A Resposta foi dada sete milhões e quinhentos mil anos depois, e não
era nada satisfatória. É comum a busca cotidiana por respostas: todos os
dias trabalhamos procurando por respostas sem sequer conhecermos - ou
formularmos - as perguntas. Quando se dá conta disso, percebe-se que ir
atrás da pergunta correta por si só traz muitas respostas. Se o
administrador não reflete sobre a sua atividade, sobre o seu trabalho,
sobre o que está norteando a sua carreira, ele não passa de um técnico
operacional que trabalha burocraticamente em prol de um salário no final
do mês, benefícios e folgas nos fins de semana e feriados. E, com isso,
torna-se um profissional capacitado, mas infeliz, tal como o robô
maníaco-depressivo Marvin.- A Resposta? - repetiu Pensador Profundo. - Resposta a que pergunta?
- A Vida! - exclamou Fook.
- O Universo! - disse Lunkwill.
- E tudo o mais! - exclamaram em uníssono. Pensador Profundo fez uma pausa para refletir.
- Essa é fogo - disse, finalmente."
4. Relaxe e tome uma Dinamite Pangalática
"O Guia do Mochileiro das Galáxias
também menciona o álcool. Diz que o melhor drinque que existe é a
Dinamite Pangaláctica. Afirma que o efeito de beber uma Dinamite
Pangaláctica é como ter seu cérebro esmagado por uma fatia de limão
colocada em volta de uma grande barra de ouro".
O lazer é tão essencial que pode ser considerado um arquétipo. Todo
mundo merece ter o seu "shabat". Mas muita gente diz que o mundo atual é
uma correria, que aqueles que dormem serão passados para trás, que bons
profissionais não conhecem o fim de semana e tal. Bem, eu digo que o
excesso de foco e de esforço não só é improdutivo como também
prejudicial para a saúde e para a carreira.As melhores ideias vêm durante um happy hour, ou após uma noite de sono bem dormida, durante um bate-papo despretensioso ou até mesmo no trânsito. Aquela solução que fez você se debruçar durante horas sobre papeis, documentos e internet para achá-la, geralmente só aparece depois de um momento de sossego. Não há vergonha em descansar, tomar um drinque e ficar de pernas para cima.
5. Nunca... nunca volte para pegar a bolsa
"Ao entrar no elevador, Tricia
percebeu que estava levemente preocupada por ter esquecido a bolsa no
quarto e pensou se devia voltar depressa e apanhá-la. Não. Provavelmente
estaria mais segura lá dentro e, de qualquer forma, não havia nada na
bolsa que ela estivesse precisando. Deixou a porta fechar-se atrás de
si. Além do mais, repetiu para si mesma, respirando fundo, se havia uma
coisa que a vida a ensinara era isso: nunca volte para buscar a sua
bolsa".
As melhores oportunidades podem ser desperdiçadas quando você percebe
que esqueceu algo e volta para buscar. Voltar para buscar aquele curso
de inglês quando há uma oportunidade de fazer um intercâmbio, para fazer
outra graduação por achar que "essa não é bem o que eu queria" ou -
literalmente - voltar para apanhar a bolsa, podem ser um revés grave na
carreira. Em vez de viajar pelas galáxias, o profissional pode viver
fadado a rotinas chatas em empresas que não gosta para poder dar o leite
do filho no final do dia. Tudo por causa de uma oportunidade de ouro
perdida.Lembre-se de que a única coisa que você precisa é a toalha - se você estiver sem ela e precisar voltar para buscá-la, então você é um péssimo mochileiro. Ao aparecer uma chance de sair do lugar, esqueça o que ficou para trás e prossiga sem pestanejar. Qual a diferença que uma bolsa fará quando você estiver a bordo de uma nave movida a um gerador de improbabilidade infinita?
Fonte: www.administradores.com.br
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