Quatro redes integram piloto de
implantação da nota fiscal eletrônica nas vendas finais no Estado
Clarisse
de Freitas
Emissão das
NF-e pelos vendedores deve chegar nas redes Paquetá e Gaston no segundo
semestre de 2012
A emissão de
uma nota fiscal eletrônica (NF-e) pressupõe uma comunicação prévia entre a
empresa vendedora e o fisco para a autorização do documento. O que é motivo
de tranquilidade para a Receita Federal e a Secretaria da Fazenda do Rio
Grande do Sul (Sefaz) gera receio para comerciantes, acostumados a presenciar
quedas de sistema e conexão à internet nos momentos de maior venda, como
Natal e Dia das Mães.
“As formas de
contingência usadas na emissão de notas fiscais eletrônicas entre as
indústrias, as distribuidoras e o varejo não são adequadas às vendas para o
consumidor final. Existem quatro formas de contingência atualmente, mas
nenhuma tem a agilidade necessária. Duas pressupõem o preenchimento de
formulários impressos em papel controlado, outra é o envio de um resumo
prévio e a quarta forma de contingência é específica para uso da Secretaria
da Fazenda. Por isso, um dos principais objetivos dessa etapa inicial é
encontrar a melhor forma de contingência para o varejo. O segmento é a nova
fronteira da NF-e”, diz o secretário-adjunto da Fazenda, Newton Guaraná.
Ele, que junto
ao subsecretário da Receita Estadual Ricardo Neves Pereira, coordena a
implantação da NF-e no Rio Grande do Sul, explica que o projeto-piloto foi criado
para atender uma demanda das empresas do varejo. Isso porque, com a
implantação do sistema eletrônico em outros pontos da cadeia de distribuição
(entre empresas e também para o transporte de mercadoria entre as unidades da
empresa varejista), as lojas passaram a solicitar ao fisco uma autorização
especial para estender a novidade às vendas finais.
A autorização
especial se faz necessária porque, até agora, a legislação prevê o registro
das vendas na memória de uma impressora fiscal homologada, procedimento que é
feito mediante a impressão do cupom fiscal. Com a adoção da nota fiscal
eletrônica, o cupom deixa de ser impresso e a emissão do documento virtual
não pressupõe a entrega de qualquer comprovante físico ao cliente. Durante o
piloto, as empresas irão avaliar a necessidade de entregar um Documento
Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (Danfe, representação em papel do
documento virtual), que poderá ser impresso nas próprias impressoras fiscais
ou em impressoras simples, de papel A4, ou ser enviado ao consumidor por
correio eletrônico.
Porém, em caso
de falha no sistema de comunicação com o fisco (que pode se dar, sobretudo,
por queda na conexão do ponto de venda com a internet), as lojas precisariam
voltar a operar com a emissão de cupons fiscais – o que requer ajustes ainda
não mapeados, já que as que desviarem as impressoras fiscais para a impressão
da Danfe não poderão simplesmente colocar os cupons fiscais na fila de
impressão. “Durante o piloto, vamos tentar encontrar os formatos adequados para
cada segmento do varejo, porque a emissão da nota fiscal eletrônica não pode
gerar transtornos para o cliente”, diz Guaraná, ao indicar que campanhas de
estímulo à emissão de notas fiscais estão sendo pensadas pela Sefaz.
Nota eletrônica tem potencial para mudar processo de venda do comércio
Entrar na loja,
escolher o produto com o auxílio do vendedor, ser encaminhado ao caixa, fazer
o pagamento e retirar a sacola com as compras. Esse processo quase tão antigo
quanto o comércio varejista pode sofrer mudanças drásticas com o
aprofundamento da adoção da Nota Fiscal Eletrônica nas vendas finais. Pelo
menos isso é o que prevê o diretor de Tecnologia da Informação das Lojas
Renner, Leandro Balbinot.
Ele projeta
que, numa fase mais avançada do uso do documento eletrônico, as vendas pagas
em cartão poderão ser fechadas pelos próprios vendedores, no meio da loja –
sem a necessidade de encaminhar o cliente para um caixa. Isso porque está nos
planos da rede de lojas de departamento a distribuição de equipamentos
portáteis para a equipe de venda. Com tablets ou smartphones em mãos,
qualquer funcionário da empresa poderá emitir uma nota fiscal eletrônica que
será mandada para o cliente pela internet e, com um terminal de cartão sem
fio, receber o pagamento.
“Primeiro
precisamos desenvolver a emissão da NF-e para o consumidor. Nessa etapa
inicial, que começou a ser elaborada internamente em janeiro e deve chegar a
uma loja no terceiro trimestre desse ano, devemos emitir a nota eletrônica
apenas para os clientes portadores do cartão Renner. Como já estão
cadastrados em nosso sistema, preencheremos com maior facilidade as
informações exigidas pelo fisco, como CPF e endereço do consumidor. Em um
segundo momento vamos analisar a extensão disso para os clientes que pagam à
vista. Existe a possibilidade de deixarmos a emissão da NF-e restrita aos
clientes do cartão”, explica.
Já na rede de
farmácias Panvel, o começo dos testes com a nota fiscal eletrônica será feito
antes, em maio, segundo Carlos Ernesto Dottori, gerente de TI do grupo
Dimed-Panvel. Ele diz que, desde que aderiu ao projeto-piloto da Secretaria
Estadual da Fazenda, a empresa vem trabalhando para adaptar o software
responsável pelo fechamento da venda (check out) ao novo sistema. “É um
processo muito delicado, pois pega o miolo da venda e tem desdobramentos
importantes nas contabilizações da empresa.”
A novidade,
agrega Dottori, é positiva para o comércio varejista por permitir a abertura
de novos caixas de forma desburocratizada – justamente por eliminar a
exigência de uma impressora fiscal homologada pela Receita. “No nosso
segmento, o ponto de venda é delicado, pois temos geralmente poucos itens
vendidos a cada compra e poucos caixas por loja. Temos que fazer a
implantação da NF-e com cuidado para não afetar o processo negativamente. Por
isso pensamos, também, em check outs móveis”, diz o gerente. Para ele, os
consumidores irão conviver por bastante tempo com modelos mistos, em que o
padrão NF-e e o atual funcionarão em paralelo – seja pela necessidade de
contingência, seja pela necessidade de as redes atenderem às regras que
variam entre os estados. Santa Catarina, por exemplo, ainda não legislou
sobre a adoção da nota eletrônica no varejo.
Uso do sistema
aumenta demanda de assessoria contábil
O contador
Ricardo Kerkhoff acredita que, como no projeto-piloto da implantação da NF-e
no varejo estão envolvidas apenas grandes redes varejistas, o risco de queda
nos sistemas de comunicação é menor, já que todas têm estruturas robustas.
“Todas possuem redundância de links e fazem grandes investimentos. Isso não
deve ser problema agora”, diz, ao ponderar que a expansão da NF-e para as
demais empresas irá aumentar a demanda por assessoria contábil, pois irá implicar
adequações fiscais para promover um refinamento de dados pelas movimentações
de saída. “Muitas empresas ainda fazem seus cálculos com base nas entradas e
isso já não é mais aceitável”, avaliou.
Segundo o
secretário-adjunto da Fazenda, Newton Guaraná, a preocupação com a
contingência é maior pela reconhecida precariedade de acesso à internet pelas
empresas. Ele considera que, internamente, não há risco de a estrutura do
fisco falhar com o aumento da demanda, já que foi montado dentro da Sefaz um
centro autorizador de nota fiscal eletrônica que funciona desde o início da
implantação do sistema nas indústrias e faz as autorizações locais e de mais
12 estados, com qualidade de conexão em mais de 99% dos casos. Guaraná
ressalta que, do momento que a solicitação chega à secretaria até a
liberação, é necessário apenas 0,3 segundo em média.
A expectativa
da Sefaz é que os primeiros resultados do projeto-piloto sejam obtidos até o
final do ano, para que em janeiro de 2013 mais empresas possam aderir
voluntariamente à emissão de NF-e nas vendas ao consumidor final. Ainda
assim, ele explica que, por se tratar de uma fase de avaliação, não há um
prazo prévio para conclusão dos trabalhos e tampouco a previsão de
obrigatoriedade de uso para todas as empresas varejistas. “Planejamos fazer a
expansão mediante adesões voluntárias e pode ser que, para empresas de alguns
nichos ou muito pequenas, a adoção da nota fiscal eletrônica nunca seja
exigida. Apesar de vermos a extensão dos sistemas de cartão de crédito a comércios
muito pequenos e de estrutura precária, como as bancas de frutas instaladas
nas ruas de Porto Alegre. Se elas têm capacidade de operar uma máquina de
cartão, poderão também emitir NF-e”, diz Guaraná.
Lojistas esperam boa aceitação dos consumidores
A emissão das
NF-e pelos vendedores deve chegar nas redes Paquetá e Gaston no segundo
semestre. Gervásio Scheibel, gerente de sistemas do grupo, projeta o começo
dessa etapa assim que os resultados para avaliar a infraestrutura e as
adaptações feitas no sistema gerencial interno derem retorno positivo.
Ele espera que a aceitação do público consumidor seja boa à proposta de envio
da Danfe por correio eletrônico. Inicialmente a empresa usará impressoras
comuns e papel A4 para entregar o documento, mas logo quem não quiser passar
pelo caixa precisará pagar com cartão e disponibilizar um endereço de e-mail
para receber as NF-e.
O
projeto-piloto da Sefaz tem Lojas Renner, rede Panvel, grupo Paquetá e Gaston
e Lojas Colombo. Luís Carlos Alberti, gerente de TI da Colombo, conta que os
testes começarão por duas lojas em Farroupilha. “Queremos usar a impressora
fiscal para imprimir o Danfe. Precisamos vencer uma questão técnica
importante: como o papel usado na impressora fiscal é pequeno e o código de
barras da NF-e tem 44 posições, ainda está saindo ilegível. Estamos
trabalhando com o fabricante das máquinas para resolver isso”, explica.
A decisão de
usar a impressora fiscal está baseada no custo menor do papel e no
aproveitamento de um investimento já feito que, sem o Danfe, ficaria
destinado apenas a imprimir os comprovantes de cartão de crédito e débito. A
grande vantagem da alteração, avalia Alberti, é a facilidade de armazenagem
dos dados e de recuperação das notas fiscais, que podem ser consultadas pelo
consumidor no site da secretaria, através do número de CPF.
Como
funciona a NF-e
1 - Ao fechar a
compra, a loja envia os dados para o fisco
2 - A central
autorizadora da Secretaria da Fazenda analisa e libera
3 - A empresa
emite o documento eletrônico
4 - O Danfe é
impresso e entregue ao cliente
5 - Com seu
CPF, o consumidor pode consultar suas notas no site da Sefaz
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Fonte: Jornal do Comércio RS - Caderno de Contabilidade |
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sexta-feira, 4 de maio de 2012
Varejo é o novo desafio para a NF-e
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