Vagner Miranda*
A contabilidade tem como foco principal o estudo da variação do conjunto de bens, direitos e obrigações que formam o patrimônio de uma entidade (pessoa física ou jurídica). O público em geral conhece e usa bastante o termo para se referir a algo complicado, ligado a números e pagamento de impostos. Por usar números para dar boa parte das suas informações, com frequência a contabilidade é vista como muito próxima da matemática, e isso talvez explique um pouco o motivo de ser ela percebida como algo de difícil compreensão — cuja utilidade é especifica — e sofra alguma resistência por parte de usuários em potencial.
No mundo corporativo, a contabilidade também encontra resistência para ser utilizada de forma abrangente. O setor contábil ou mesmo a área de controladoria na maioria das vezes são reconhecidos como a área da empresa que existe apenas para atender as exigências dos órgãos de arrecadação de impostos do governo. Essa visão restrita se aplica principalmente às micros, pequenas e até médias empresas.
Como elas
correspondem à maior parte do universo das empresas existentes no
Brasil, a classe contábil vem fazendo um enorme esforço para tentar
esclarecer que a utilidade, aplicabilidade, necessidade e benefícios da
contabilidade vão muito além do suporte ao pagamento dos impostos. A
classe cada vez mais procura difundi-la como uma das ferramentas
imprescindíveis para o correto gerenciamento de empresas de todos os
ramos de atividade e tamanho.
Mas, mesmo
com todos os esforços, a maior parte dos empresários da pequena e média
empresa ainda faz pouco uso da contabilidade para gerenciar os
negócios. Essa postura pode até ser uma opção, entretanto é importante
que essas empresas tenham consciência de que é necessário manter a
escrituração contábil em dia, pois podem vir a precisar dela em várias
ocasiões. Na prática, esses empresários ainda não encontram ou percebem
muitos motivos para manterem um departamento ou contratarem um serviço
terceirizado de contabilidade com o objetivo de obter informações que
auxiliam na tomada de decisão.
Diante
deste cenário é importante destacar aspectos muitas vezes não
compreendidos ou conhecidos, que contribuem para o uso limitado da
contabilidade. Eles reforçam porque é importante que os administradores
se esforcem para mantê-la funcionando bem dentro da empresa. Veja alguns
motivos:
1) Possibilita
a prática de economia tributária na distribuição de lucro para os
sócios da empresa, com substancial redução dos impostos pagos na pessoa
física;
2) É imprescindível diante da necessidade de solicitação de
recuperação judicial;
3) Facilita a relação com as instituições
financeiras no acesso a
linhas de créditos;
4) Representa a verdadeira situação patrimonial
da empresa. Serve de prova para o sócio que quer sair da sociedade para
fins de apuração de haveres ou venda de participação;
5) Prova, em
juízo, a situação patrimonial nas disputas que possam existir entre
herdeiros e sucessores de sócio falecido;
6) Comprova em juízo fatos
cujas provas dependam de perícia contábil;
7) Auxilia na defesa de
reclamações trabalhistas quando as provas a serem apresentadas dependam
de perícia contábil; 8) Serve para afastar da empresa o risco de
autuações fiscais relacionadas a tributos federais, estaduais e
municipais ou como suporte nas defesas contra auto de infração.
O
conhecimento desses aspectos pode ser propulsor para que a contabilidade
seja vista por esses administradores como um instrumento cuja utilidade
é mais abrangente do que pensam, indo além de um sistema que só serve
para suportar as questões de ordem tributária. É importante que
considerem também o fato de que ao manter o sistema contábil funcionando
na sua versão mais básica que é a contabilidade societária — aquela
baseada apenas na legislação — a empresa automaticamente está preparada
para superar qualquer situação relacionada com os aspectos destacados.
O empresário é o principal responsável por
identificar e suprir todas as necessidades da empresa, e entre elas
está o funcionamento de um sistema de contabilidade que no mínimo pode
proteger contra terceiros que vislumbrem reivindicar algum direito ou
cobrar algo que de fato ela não tem o dever de atender. Uma vez que a
empresa mantenha a contabilidade societária funcionando, o passo
seguinte pode ser seu incremento, visando torná-la também gerencial em
conformidade com o que a classe contábil recomenda.
O
empresário que se interessar em conhecer um pouco mais sobre as
possibilidades oferecidas pelo sistema contábil aos poucos vai perceber
que com alguns incrementos ela pode de fato se transformar em uma das
ferramentas imprescindíveis para o correto gerenciamento da sua empresa.
Fonte:Jornal do Brasil
Matéria divulgada no site do Conselho Federal de Contabilidade
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